O líder do PP na Câmara, deputado Arthur Lira (AL), acredita na aprovação da reforma da Previdência, porém ressaltou que a proposta precisa ser amplamente debatida e que não é possível determinar agora a intensidade e o prazo para sua aprovação pelo Congresso.
"O problema é de que tamanho, com que prazo. Não haverá votos se continuarmos com essa especulação de prazos. Quanto mais se discutir e buscar por uma reforma minimamente consensuada, maior a chance de ter os 308 votos necessários", afirmou Lira, em entrevista à Rádio Eldorado.
O parlamentar disse que, neste momento, o número de parlamentares que votariam pela reforma da Previdência não é suficiente para aprovar a medida no plenário da Câmara.
"Hoje, não temos os 308 votos para aprovar a reforma, isso é fato", afirmou. "Não adianta levar a pauta na marra ao plenário de 513 deputados que ninguém controla. Falar em rapidez quando não se tem voto é arriscado", insistiu.
"É melhor modular e fazer enxugamentos pontuais", continuou, prevendo ocorrer alterações no texto original. "O governo não tem mais a capacidade política de dizer 'não aceito que mude mais nada na reforma'", comentou o deputado.
Ele disse nunca acreditar na economia de R$ 1 trilhão ou mais em dez anos como pretendido pela equipe econômica do governo. "Talvez algo em torno de R$ 600 bilhões já seria positivo e aí pode se fazer outra reforma lá na frente, quando necessário", afirmou Lira.
O deputado refutou, entretanto, que uma desidratação da reforma seja estratégia do Centrão para enfraquecer o presidente Jair Bolsonaro (PSL) e sua eventual candidatura à reeleição em 2022. "Não existe Centrão, isso é uma denominação da imprensa para aglutinar os partidos que não estão na base do governo", disse.
"Paulinho da Força (Solidariedade-SP) errou ao sugerir desidratar a reforma como estratégia para enfraquecer Bolsonaro. O tempo das mídias sociais é muito mais rápido que o tempo da política real e ele já reconheceu que errou", afirmou.
Apoio de governadores
Para Lira, uma das estratégias do governo para aprovar a reforma, a liberação de recursos do pré-sal para os Estados não deve se provar efetiva na busca por votos. "O governo erra ao distribuir dinheiro do pré-sal diretamente aos governadores", disse.
Segundo ele, "governadores não têm voto nem pedem voto". "A reforma da Previdência é muito melhor aceita em São Paulo, no Rio e no Sul. Nas outras regiões, eu diria que 80% são contra a reforma."
O déficit previdenciário dos Estados, disse Lira, não deveria ser debatido em âmbito federal. "Na minha opinião, tudo pertinente a Estados e municípios tem que ser enviado às respectivas assembleias e aí os governadores têm que se envolver."
Comissão Especial
Apesar de a reforma ter sido aprovada com 48 votos a favor e 18 contrários na Comissão de Constituição e Justiça (CCJ) da Câmara, essa proporção não reflete o grau de aceitação da proposta no plenário da Casa, acredita o deputado.
"As comissões têm maioria artificial. No meu partido, a maioria não é a favor da reforma", disse. "No meio de 40 deputados do meu partido, coloquei três na Comissão que são a favor da reforma para facilitar a tramitação, mas, chegando no plenário, a conversa é outra."
O "gabinete de inteligência" criado pelo governo, que deve funcionar a partir de terça-feira, 7, para oferecer esclarecimentos e tentar angariar mais votos a favor da reforma foi criticado por Lira. "O governo erra ao criar este gabinete. É como se estivesse tratando os deputados como neófitos, amadores que não entendem o que se trata."