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Reforma não se faz de uma só vez, diz Franco

Para ex-presidente do BC, na Previdência, o que parece ser consenso já é um progresso

Por Vinicius Neder
Atualização:

RIO - Mesmo com as concessões feitas pelo governo em relação à proposta original de reforma da Previdência feita pela equipe econômica, as mudanças “consensuais” que deverão permanecer no relatório da comissão que analisa o tema na Câmara dos Deputados já serão um “grande progresso”, disse o economista Gustavo Franco, ex-presidente do Banco Central (BC).

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O parecer do deputado Arthur Maia (PPS-BA), relator da comissão especial da Câmara que analisa a reforma, deverá ser lido hoje no colegiado. Uma das principais mudanças é que a idade mínima para as mulheres se aposentarem será 62 anos, e não os mesmos 65 dos homens.

“O que já parece ser consensual e está no relatório já seria um grande progresso. Agora, será tanto melhor quanto menores forem as concessões, mas paciência, é do jogo”, disse Franco, após participar de seminário em homenagem a ao centenário de nascimento do economista Roberto Campos, no Rio.

Franco ponderou, por outro lado, que a agenda de reformas deveria ser permanente. Por isso, a proposta atual não resolverá todos os problemas e a questão previdenciária exigirá mudanças no futuro. “Minha postura sobre reformas, com a experiência que eu tive, é que é uma pauta permanente”, disse.

Para Franco, prevalece no Brasil uma ideia, equivocada, de que as reformas podem ser feitas de uma vez e nunca mais. “Não é assim. Uma economia que aspira possuir um dinamismo de atleta olímpico tem de treinar permanentemente.”

Mesmo diante das incertezas políticas com a revelação das deleções premiadas de executivos da Odebrecht, Franco vê o ambiente favorável às reformas. “Não estou vendo nada disso paralisar a dinâmica do parlamento brasileiro. Essas revelações últimas foram especialmente chocantes, mas a vida continua”, disse.

Transição. Em sua palestra no seminário, Franco destacou que um desafio das reformas institucionais é continuar a vigorar na passagem de um governo para outro. O economista deu como exemplo o Plano Real, do qual foi um dos formuladores. Segundo Franco, as reformas do primeiro governo Fernando Henrique Cardoso tiveram continuidade em seu segundo mandato e muita coisa foi mantida no primeiro governo Luiz Inácio Lula da Silva.

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A receptividade às propostas do Real não foi acidental, disse. Ideias já defendidas antes por Roberto Campos contribuíram para seu sucesso. Campos, que completaria 100 anos na última segunda-feira, foi um dos maiores defensores do liberalismo no País. Para Franco, o economista, que foi ministro, diplomata, senador e deputado federal, e colunista do Estado de 1988 a 1995, certamente apoiaria as reformas propostas pela equipe econômica comandada pelo ministro da Fazenda, Henrique Meirelles.