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Regulador leva culpa pela crise

Esse parece ter sido um dos poucos consensos no Fórum Econômico Mundial de 2008, que ocorreu em Davos

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Por Fernando Dantas
Atualização:

A culpa pela turbulência nos mercados é do regulador. Esse parece ser um dos poucos consensos no Fórum Econômico Mundial de 2008, que transcorre numa semana agitadíssima no mercado financeiro global. A nata do sistema financeiro mundial reunida nesta pequena cidade alpina acompanhou as emoções da semana em tempo real, e a instabilidade dos mercados foi um dos grandes temas da reunião. O Estado entrevistou dois economistas de grande prestígio internacional, com perfis diferentes, e o ponto em comum foi o de apontar as enormes falhas de regulação do sistema financeiro internacional, muito especialmente do americano. Para o prêmio Nobel Joseph Stiglitz, conhecido crítico da globalização, o problema tem conotações políticas e ideológicas. No primeiro caso, ele considera que o Fundo Monetário Internacional (FMI) é paralisado pelo poder de veto dos Estados Unidos quando se trata de denunciar e prevenir a lambança promovida pela maior potência do mundo no seu próprio mercado imobiliário e de crédito. Stiglitz notou que esse não é apenas um problema americano, na medida em que o país exportou "hipotecas tóxicas" para outras partes do mundo. A referência é aos produtos financeiros montados em cima dos recebíveis futuros de hipotecas de alto risco nos Estados Unidos, que foram transacionados não só por instituições financeiras americanas, mas também por bancos europeus. Pela vertente ideológica, Stiglitz critica a desregulamentação bancária e a "estrutura de incentivos" que estimula ao máximo a tomada de riscos no mercado. Ele citou exemplos como o das agências de classificação de risco, pagas pelos próprios emissores dos títulos que devem classificar. Kenneth Rogoff, da Universidade Harvard, e ex-economista-chefe do FMI, tem uma visão menos condenatória das instituições que regulam o mercado. Ele acha que os reguladores falharam e certamente vão mudar sua conduta daqui em diante. Por outro lado, ele considera que numa época de velocíssima inovação financeira, erros deste tipo são compreensíveis. Em relação ao Fed, a posição de Rogoff também é mais moderada. Ele acha que Ben Bernanke demonstrou grandeza ao cortar a taxa básica em 0,75 ponto antes da reunião regular, porque ele vê implícito nessa decisão o reconhecimento de que foi um erro ter cortado apenas 0,50 na reunião anterior.

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