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Reindustrialização depende da criação de um ambiente macroeconômico mais favorável à produção

É equivocado apostar que só a abertura comercial nos recolocaria no caminho do desenvolvimento

Por Antonio Corrêa de Lacerda
Atualização:

A questão da desindustrialização brasileira tem gerado importante debate a respeito das suas causas e consequências. A participação da indústria de transformação no Produto Interno Bruto (PIB) é hoje de cerca de apenas 10%, bem abaixo do seu nível histórico e de países de porte e grau de desenvolvimento comparáveis.

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A reversão do processo e a promoção da reindustrialização implica a criação de um ambiente macroeconômico mais favorável à produção, assim como a adoção de políticas de competitividade (políticas industrial, comercial e de inovação), além do fomento à cultura empresarial e o intercâmbio universidade-institutos de pesquisa e empresas.

Vale destacar que as três esferas – macro, meso e micro – são complementares e interdependentes entre si. A falsa ideia da “compensação” não funciona, até mesmo porque é impossível balancear a competitividade com base apenas em uma das vertentes.

Participação da indústria de transformação no PIB, em cerca de 10%, está bem abaixo do nível histórico e de países de porte e grau de desenvolvimento comparáveis ao Brasil Foto: Felipe Rau/Estadão

O Brasil possui empresas locais e filiais de transnacionais com níveis de competitividade microeconômica compatíveis com o “estado da arte” global. Isso, no entanto, infelizmente não as torna competitivas diante das cadeias internacionais de valor. E o problema não é individual, mas do ambiente. Condições macroeconômicas desfavoráveis e políticas industriais titubeantes agravaram a situação.

O aumento da nossa dependência de produção e exportação de commodities, ou de produtos de baixa complexidade e valor agregado, nos vulnerabilizou em um quadro internacional complexo. O resultado foi o avanço das importações, substituindo a produção local, com impactos negativos no emprego e renda.

Os industriais brasileiros, aqueles que não atuaram em setores diretamente ligados a commodities, ou de setores oligopolizados, foram “empurrados”, por sobrevivência ou senso de oportunidade, para a importação e o rentismo.

Para além da reversão do retrocesso na indústria, imprescindível para o desenvolvimento, faz-se crucial integrar de outra forma nossa atividade produtiva aos preceitos da indústria 4.0, da nanotecnologia, da internet das coisas e da tecnologia 5G. Os desafios que se apresentam, portanto, envolvem implementação de políticas de competitividade nos moldes das melhores práticas internacionais e locais. Seria equivocado apostar apenas no “mercado” e que a abertura comercial nos recolocaria no caminho do desenvolvimento.

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*PROFESSOR-DOUTOR E COORDENADOR DO PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM ECONOMIA POLÍTICA DA PUC-SP, É PRESIDENTE DO COFECON. E-MAIL: contato@aclacerda.com

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