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Reino Unido anuncia venda dos correios

Em reação, os trabalhadores vaiam a presidente do Royal Mail e já existe uma ameaça de greve

Por Fernando Nakagawa e CORRESPONDENTE
Atualização:

LONDRES - Orgulho dos britânicos e intocável até mesmo pela dama de ferro Margaret Thatcher, o serviço de correios do Reino Unido será privatizado. Após meses de estudo e mesmo com a pressão de vários setores da sociedade, o governo do primeiro-ministro David Cameron anunciou que pretende vender parte das ações do Royal Mail nas próximas semanas.A reação veio rapidamente: trabalhadores vaiaram a presidente da empresa, que tentou explicar a operação, e já há ameaça de greve.Com o argumento de que é preciso atrair novos acionistas para modernizar a empresa de 497 anos e prepará-la para o futuro, o governo conservador de Cameron anunciou ontem o plano para oferecer parte da empresa ao capital privado."A decisão assegurará o futuro saudável da companhia. Essa medida ajudará a assegurar a sustentabilidade do Royal Mail no longo prazo", defendeu o secretário de negócios do governo inglês, Vince Cable. Esse é o mais ambicioso plano de privatização no país desde os anos 90.Negociação. O governo ainda não anunciou qual parcela será oferecida ao mercado. A imprensa britânica afirma que Cameron poderia negociar até 41% do capital da companhia. Além disso, será oferecida parcela de 10% da empresa aos 150 mil funcionários dos correios.Se os números forem confirmados, o contribuinte inglês poderia deixar de ser dono do Royal Mail, já que até 51% do capital da empresa trocaria de mãos. Analistas avaliam que a empresa vale cerca de 3 bilhões de libras (R$ 10 bilhões).Os correios sempre foram considerados um tabu quando o assunto é privatização no Reino Unido. Nos anos 80, quando o país viveu um dos mais intensos processos de privatização da história, o governo Thatcher vendeu a British Gas, a British Airways e a British Telecom, entre outras estatais. A dama de ferro, porém, não tocou nos serviços postais porque, se a privatização já era um tema polêmico, a venda do Royal Mail era ainda mais sensível.Qualidade. Entre os britânicos, há o temor de que a venda prejudique a qualidade. Eles se orgulham de ter um serviço confiável que passa seis vezes por semana na porta de todos os endereços e cobra preço único para a postagem nacional.Segundo Cable, mesmo privatizado, os correios manterão os serviços de seis dias por semana e o preço único.As explicações, porém, não foram suficientes e a reação mais forte veio dos cerca de 150 mil empregados, que consideram entrar em greve nas próximas semanas.

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