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‘Renda fixa de baixo risco vai andar na fronteira da inflação’

Para garantir o dinheiro de emergência, a renda fixa deve continuar na carteira dos investidores, mas, para fazer o dinheiro render: o risco será inevitável

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Por Talita Nascimento
Atualização:

Com os juros em 4,5% ao ano, confirmam-se as projeções de que os ativos de renda fixa e liquidez diária terão os rendimentos achatados e, em alguns casos, passarão a não repor a inflação. Para o diretor de investimentos do Santander, Gilberto Abreu, esses investimentos devem, a partir de agora, “andar na fronteira da inflação”. No entanto, ele afirma que esses ativos devem continuar a ter espaço na carteira do investidor, para garantir o acesso ao dinheiro de emergência. 

Para fazer o dinheiro render, porém, será preciso partir para o risco, mesmo sem sair da renda fixa. Títulos de crédito agrícola e imobiliário (CRIs e CRAs), além das dívidas de empresas de infraestrutura (debêntures incentivadas) são alguns papéis que o diretor aponta com boa rentabilidade no próximo ano. Nesse caso, porém, a dica é não se aventurar sozinho neste novo mundo: “Para os clientes de varejo, o ideal é tentar entrar nessas classes através de fundos”, diz Abreu. 

Gilberto Abreu, diretor de investimentos do Santander Foto: Santander/Divulgação

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Para onde o investidor pode correr agora? 

A gente fala de fechamento de curva de juros há bastante tempo. Os clientes que fizeram maior alocação em renda variável no último ano, ou um ano e meio, conseguiram surfar uma onda positiva: alguns conseguiram alcançar o sonhado 1% ao mês em rendimentos. Além disso, esse rendimento teve um “plus” com a inflação baixa, o que realmente significa que o dinheiro está rendendo mais. Do ponto de vista prático as recomendações continuam as mesmas. A gente tem dado um peso maior nas indicações para fundos multimercados e ações, porque são duas classes que a gente acredita que ainda têm espaço para crescer no próximo ano. 

A renda fixa acabou?

Falando de renda fixa, você tem aquela de baixo risco e a de mais alto risco. A de baixo risco, que foi o que o brasileiro se acostumou a investir (CDB, LCI, LCA), de fato, são produtos que estão menos atrativos. O investidor deveria manter na sua carteira, para garantir liquidez. Todo mundo precisa de uma parte do dinheiro líquido e não vai colocar isso em fundos multimercados. Primeiro porque a maior parte desses fundos é D-30 (o resgate demora 30 dias para ser creditado ao cliente) e outra é que ele fica flutuando e pode ter haver surpresa quando o investidor precisar do dinheiro.

Nesses ativos de baixo risco, o investidor vai perder dinheiro?

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Eles vão andar na fronteira da inflação. Claro, estamos falando da inflação projetada e taxa de juros projetada. O que vai acontecer é que a rentabilidade estará muito próxima de zero. Acredito que ficará marginalmente positiva: 0,5% ao ano positiva para o cliente. O rendimento será muito achatado e o cliente vai sentir. Em algumas classes, vai haver possibilidade de o cliente empatar com a inflação ou ficar abaixo da inflação.

E qual seria a serventia deles, então?

Carregar liquidez, como é no mundo inteiro. A renda fixa de liquidez diária e baixo risco, no mundo inteiro tem esse papel. A gente simplesmente está virando um país um pouco mais normal com a taxa de juros de 4,5%. O anormal é o que o que a gente tinha: renda fixa com liquidez diária e rentabilidade real de 5% ao ano. Essa realmente era uma coisa brasileira. 

E a renda fixa com mais risco?

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CRIS, CRAS e debêntures incentivadas vão ser papéis muito atrativos. Para os clientes de varejo, o ideal é tentar entrar nessas classes através de fundos, fundos de infraestrutura, por exemplo. Assim ele vai comprar debêntures de infraestrutura, mas quem vai fazer a seleção é um gestor profissional. A chance dele se expor de maneira inadequada ao risco de crédito vai estar minimizada. A segunda vantagem é que ele acessa emissões de crédito que não são acessíveis a clientes de varejo e podem ser compradas nesses fundos com condições mais favoráveis.

Os títulos mais longos do governo são mais seguros? 

Existe uma ideia de que títulos do governo têm baixo risco. Quando você compra um Tesouro Selic, sim, está comprando um papel mais seguro, que acompanha o mercado, mas que também vai pagar muito pouco agora, com os juros a 4,5%. Já os papéis longos atrelados à inflação com vencimento em 2050, por exemplo, são extremamente voláteis, quase tão voláteis quanto a Bolsa. Se é um investidor que não conhece muito de curva de juros e marcação a mercado, a gente não recomenda muito esse investimento. 

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E a bolsa? Já se valorizou demais ou ainda há espaço para o investidor nesse novo cenário?

Se você diminui juros, diminui também o custo de capital das empresas e aumenta o retorno delas. Como esse movimento de valorização da Bolsa é recente, acreditamos que ele ainda não precificou uma segunda onda que deve vir como consequência. À medida em que você reduz os custos das dívidas das empresas e fomenta a atividade econômica, os resultados das empresas melhoram. A gente acredita que esse segundo ciclo ainda vai acontecer. Em algum momento podemos ver uma mudança desse movimento. Vamos avaliar isso acompanhando a Economia. Se houver crescimento sem inflação, o que é um cenário possível, isso vai puxar valorização das ações por bastante tempo. Em 2020, já apostamos nesses resultados melhores. 

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Isso tudo contando com um cenário externo que não mude?

É ano de eleições nos Estados Unidos. Há interesse do governo americano em minimizar essas questões comerciais. A gente vê, sim, que isso deve trazer volatilidade, mas, a priori, mantemos nossa posição de que a bolsa brasileira têm espaço para crescer. Outra coisa que a gente já tem sugerido para os clientes é fazer diversificação em moeda estrangeira. Comprar dívidas no exterior através de fundos, ou investir em ações lá fora, é bem interessante. Parte disso pode ser por meio de fundos multimercados ou fundos que já se propõe a investir em ações no exterior.

 

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