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Renda média de trabalhador homem é 26% maior que o salário de uma mulher

Dados são do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) e mostra que rendimento das mulheres ocupadas, com idade entre 25 e 49 anos é, em média de R$ 2.050

Por Daniela Amorim (Broadcast)
Atualização:

RIO - Além de terem mais dificuldade de conseguir emprego, as mulheres ainda recebem salários mais baixos do que os homens no mercado de trabalho. A renda média de um trabalhador adulto do sexo masculino é 26% maior do que o de uma mulher na mesma faixa etária.

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Os dados são do Estudo Especial sobre Diferenças no Rendimento do Trabalho de Mulheres e Homens nos Grupos Ocupacionais com base nas informações levantadas pela Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios Contínua (Pnad Contínua), apurada pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE).

No ano de 2018, o rendimento médio das mulheres ocupadas com idade entre 25 e 49 anos foi de R$ 2.050, o equivalente a 79,5% da remuneração recebida pelos homens, de R$ 2.579. Os afastamentos ao longo da carreira feminina, como quando a mulher é demitida ou se afasta do emprego para cuidar dos filhos, explicam parte dessa desigualdade.

Mulheres ainda recebem salários mais baixos do que os homens no mercado de trabalho. Foto: Fabio Motta/Estadão

“A intermitência tira vantagens no mercado de trabalho, compromete mais a trajetória laboral da mulher. Seja porque ela só consegue trabalho que pague pouco, seja porque precisa de um emprego com menos exigência de horas para poder conciliar com os cuidados de outras pessoas. Quanto mais filhos ela tiver, mais episódios de afastamentos. Pode ser que a mulher de baixa renda seja mais afetada, porque precisa de creche para poder trabalhar, mas não pode pagar”, explicou Adriana Beringuy, técnica da Coordenação de Trabalho e Rendimento do IBGE.

Dependendo da profissão escolhida, as mulheres chegam a receber menos da metade, como é o caso de engenheiros de minas, metalúrgicos e afins, em que homens recebem um salário médio de R$ 11.922,40, contra uma remuneração média de R$ 5 mil recebida pelas mulheres na mesma profissão. A diferença é ainda maior no caso de engenheiros eletrônicos, com salário médio de R$ 12.218,80 para homens e R$ 4 mil para mulheres no mesmo cargo.

Em 2018, o valor médio da hora trabalhada foi de R$ 13 para as mulheres, enquanto que a hora trabalhada por um homem era de R$14,2. As mulheres trabalhavam, em média, 4,8 horas semanais a menos do que os homens, mas o levantamento não leva em consideração o tempo a mais dedicado a afazeres domésticos e cuidados de pessoas. 

O estudo mostra ainda que as desigualdades salariais persistiram mesmo em profissões em que elas eram maioria e trabalhavam o mesmo número de horas que os homens, como no caso de professores de ensino fundamental: elas eram 84% dos profissionais nessa função, mas recebiam aproximadamente 10% menos do que os homens no mesmo cargo.

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“Nem tudo é explicado pelas horas trabalhadas. Mesmo que você tenha uma maioria de mulheres, você tem homens em cargos de chefia com uma remuneração maior”, lembrou Adriana. 

No ano passado, a população ocupada na faixa etária de 25 a 49 anos totalizava 56,4 milhões de pessoas em todo o Brasil, sendo 54,7% de homens e 45,3% de mulheres. A participação feminina no mercado de trabalho não mudou significativamente desde 2012, quando a pesquisa teve início, o que mostra o predomínio da participação masculina no contingente de trabalhadores ocupados, afirmou o IBGE.

Considerando-se as ocupações selecionadas no estudo, a participação das mulheres era maior entre os trabalhadores dos serviços domésticos em geral (95% do total de ocupados nessa função), trabalhadores de limpeza de interior de edifícios, escritórios, hotéis e outros estabelecimentos (74,9%) e trabalhadores de centrais de atendimento (72,2%).

Por outro lado, entre os cargos de diretores e gerentes, as mulheres tinham participação pequena (41,8% dos trabalhadores nessa função), com rendimento médio de R$ 4.435, o equivalente a 71,3% do recebido pelos homens na mesma profissão, de R$ 6.216. Entre os profissionais das ciências e intelectuais, as mulheres tinham participação majoritária, 63% deles, mas recebiam apenas 64,8% do rendimento dos homens no mesmo cargo.

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Nas ocupações com maior nível de instrução também houve desigualdade nos rendimentos. Entre os professores de universidades e do ensino superior, o rendimento das mulheres equivalia a 82,6% do recebido pelos homens. Entre os médicos especialistas e advogados, as mulheres representavam 52% dos trabalhadores, mas ganhavam pouco mais de 70% do salário médio dos homens na mesma função.

“Há redução de desigualdade salarial nas profissões com remunerações mais baixas, porque nessas ocupações tem um atrelamento muito grande do rendimento com o piso remuneratório. A desigualdade salarial entre homens e mulheres só não é maior porque tem um contingente muito grande de trabalhadores nos extratos de renda mais baixos, então reduz um pouco, senão a diferença (salarial) seria maior que esses 20% (que as mulheres ganham, em média, a menos que os homens)”, ressaltou Adriana Beringuy.

A taxa de desemprego foi de 11,6% no quarto trimestre de 2018, mas muito mais elevada entre as mulheres (13,5%) do que entre os homens (10,1%), comportamento observado em todas as regiões do País. As mulheres eram maioria na população em idade de trabalhar no Brasil, 52,4% das pessoas nessa faixa etária no quarto trimestre de 2018, mas se mantiveram como a maior parte da população que estava fora da força de trabalho (64,7%).

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Paradoxo

Para a professora da Fundação Getulio Vargas (FGV) Vanessa Cepellos, as diferenças salariais “partem de uma concepção de que a mulher não teria habilidades para estar no mercado”. Vanessa lembra, porém, que mulheres têm mais anos de estudo do que homens, em média. “É um paradoxo falar que eles teriam mais competência.”

Para ela, a maternidade, da forma como ainda é vista pelas empresas - um período de ausência ou baixa produtividade - dificulta a conquista de posições de destaque, com salários mais altos. Medidas como jornadas flexíveis ou creches nas empresas seriam caminhos, diz, para tornar a corrida mais justa. /COLABOROU JÚLIA MARQUES

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