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Renúncia de ministro da Economia agrava confluência de dificuldades na Argentina

Martín Guzmán vinha sendo duramente criticado pela vice-presidente Cristina Kirchner, que expressou publicamente insatisfação com os planos de redução de gastos públicos

Por André Marinho
Atualização:

A renúncia do ministro da Economia da Argentina, Martín Guzmán, aprofunda a crise política e adiciona mais uma camada de incertezas à confluência de adversidades econômicas que assola o país. Com inflação em disparada e esgotamento das reservas internacionais, economistas já questionam a capacidade de Buenos Aires de honrar a dívida externa e preveem perspectivas difíceis para o peso argentino

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Guzmán vinha sendo duramente criticado pela vice-presidente Cristina Kirchner, que expressou publicamente insatisfação com os planos de redução de gastos públicos. O compromisso em diminuir o déficit era uma das contrapartidas exigidas pelo Fundo Monetário Internacional (FMI) para um acordo de reestruturação de cerca de US$ 44 bilhões em dívida, firmado em março. 

Na carta em que anunciou a renúncia, Guzmán não citou especificamente os motivos que levaram à decisão, mas a publicação do documento, neste sábado, coincidiu com um discurso de Kirchner emhomenagem aos 48 anos da morte do ex-presidente Juan Domingo Perón. Nele, a vice-presidente criticou as políticas capitaneadas por Guzmán. "Não que eu tenha me tornado apologista do déficit fiscal, mas honesta e simplesmente não acredito que essa seja a causa da desproporcional e única da inflação estrutural na Argentina e no mundo", afirmou.

A saída de Martín Guzmán do cargo de ministro da Economia da Argentinaaprofunda a crise política e as adversidades econômicas que assolam o país Foto: Ministério da Economia da Argentina

Além do ministro, o secretário de Fazenda, Raúl Enrique Rigo, também entregou o cargo. Por outro lado, o presidente do Banco Central da República Argentina (BCRA), Miguel Pesce, negou que tenha intenção de deixar o posto. Diante do desfalque na equipe econômica, o presidente Alberto Fernández convocou uma reunião de emergência com aliados para tratar da questão, de acordo com o jornal El Cronista.

A notícia suscitou temores de agravamento das nuvens que encobrem o horizonte econômico do país. "Comprem dólares e apertem os cintos, meses muito difíceis estão por vir", alertou a economista Diana Mondino, da Universidade de CEMA, em publicação no Twitter. "[Guzmán] será para sempre lembrado como um dos piores ministros da economia. Soberbo, bruto, pedante e totalmente irresponsável", criticou. 

Reitor da Escola de Governo da Universidad Torcuato Di Tella, em Buenos Aires, o economista Eduardo Yeyati afirmou, na mesma rede social, acusou Kirchner de deliberadamente impor danos ao gabinete do governo. "Raramente os interesses pessoais de um líder político estiveram tão visivelmente em desacordo com o bem-estar dos argentinos", pontuou. 

Sócio-gerente da consultoria Ledesma, Gabriel Caamaño Gomez explica que é preciso esperar para ver quem assumirá o comando das finanças argentinas. "Mas a verdade é que com expectativas completamente desancoradas e o nível atual de desequilíbrios, espero que pensem com cuidado em quem colocar e que quem vier tenha linhas concretas e consistentes", ressaltou, também no Twitter. 

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O impacto da renúncia no mercado só poderá ser verificado na segunda-feira, mas o câmbio já vinha atravessando um período de volatilidade. No ano até o momento, o dólar saltou mais de 20%, cotado a 125,453 pesos argentinos ontem. Nos negócios paralelos, o chamado dólar blue chegou a ser vendido no nível recorde de 239 pesos esta semana.

Segundo a Capital Economics, o movimento reflete, entre outros fatores, dúvidas sobre o acordo com o FMI. O Conselho de Diretores do Fundo aprovou desembolso de US$ 4,03 bilhões à Argentina, mas a consultoria britânica vê sinais de que o governo não está fazendo tanto para conter a queda do peso. "Em última análise, isso pode significar o colapso deste acordo como o FMI", avalia.

A Argentina enfrenta uma das mais elevadas taxas de inflação no mundo, com o índice de preços ao consumidor em alta de mais de 60% na comparação anual de maio. 

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