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Reportagem especula se AL viverá nova "década perdida"

Por Agencia Estado
Atualização:

A América Latina estaria caminhando para uma nova "década perdida?". A pergunta é feita na edição européia desta semana da revista Business Week, que traz uma matéria sobre os riscos de uma repetição da situação verificada na década de 80, quando vários países latino-americanos declararam a moratória de suas dívidas, levando grande parte da região para uma profunda recessão, que gerou redução do crédito e dos investimentos. Após uma década de reformas de abertura do mercado que melhoraram dramaticamente a infraestrutura física da região, mas não conseguiram gerar crescimento sustentável, empregos e redução da pobreza, os latino-americanos estão perdendo a convicção sobre as virtudes do livre mercado. Diante dessa percepção geral, a revista destaca que os políticos não ousam apoiar a agenda do livre mercado nos dias de hoje. Preocupados com a situação, os EUA estão enviando o secretário do Tesouro, Paul O´Neill, para avaliar como o país poderia ajudar a América Latina. "A região está em sérios problemas", afirmou o estudioso Riordan Roett, diretor do programa de Hemisfério Ocidental da Johns Hopkins University. "Estamos a caminho de um longo período de interrupção das reformas iniciadas, turbulências e de populismos que colocarão a região ainda mais atrás dos tigres asiáticos", analisou. Desde 1998, a média de crescimento da região é de apenas 1,5%, ligeiramente acima da anêmica média de 1,1% observada na década de 80. Neste ano, o crescimento médio da região deve ficar em torno de zero. "Nós já temos meia década de estagnação no PIB per capita", disse o secretário-executivo da Comissão Econômica da ONU para a América Latina e Caribe (Eclac), José Antonio Ocampo. "Alguns acreditam que as expectativas levantadas pelos efeitos das reformas não foram realistas e, infelizmente, estão certos", sentenciou. Mesmo se o crescimento voltar a algo ao redor de 3% - um desempenho respeitável para os padrões norte-americanos -, ainda não será suficiente para atender às necessidades da América Latina para combater a pobreza. "Estamos criando um problema social enorme. Precisamos de pelo menos 4% ou 5% de crescimento por ano", comentou o executivo Ernesto Heinzelmann, presidente e CEO da Embraco, fabricante brasileira de sistemas de refrigeração. De acordo com a Business Week, o pior cenário para a América Latina seria uma moratória da dívida pelo Brasil. A revista informa que as agências de risco apostam que há uma possibilidade de 30% de que isso ocorra. Segundo a publicação, os temores de que o candidato do PT, Luiz Inácio Lula da Silva, leve o País para o caminho do populismo provocaram uma desvalorização de 20% do real desde janeiro. A depreciação do real provocou aumento do custo de serviço da dívida pública de US$ 290 bilhões, que, em grande parte, é indexada ao dólar. "Se o nível continuar subindo, teremos uma crise da dívida", afirmou o professor de economia da USP, Alberto Borges Matias. Uma moratória por parte do Brasil causaria uma reação em cadeia na América Latina. A perspectiva é negra, mas este não precisa ser o destino da região. A matéria afirma que a AL deveria seguir os passos do México e do Chile, que têm prosperado tornando as exportações um pilar do desenvolvimento. Mesmo que esses países estejam vulneráveis, continuam com desempenhos melhores do que o de seus vizinhos. Para a revista, a menos que as reformas na região ganhem força, o Chile e o México seguirão como uma exceção e não como uma regra.

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