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Reserva é seguro anticrise, diz governo

Apesar do vaivém das bolsas, BC mantém compra de dólares

Por Fabio Graner
Atualização:

Mesmo com o forte aumento da volatilidade nos mercados internacionais, o Banco Central (BC) do Brasil persistiu na política de comprar dólares para reforçar as reservas internacionais. Nas últimas duas semanas, o BC fez aquisições diárias da moeda americana que, segundo estimativas do mercado, somaram cerca de US$ 730 milhões (US$ 365 milhões em cada semana). Apesar de comprar menos do que habitualmente vinha fazendo antes da crise, a continuidade das intervenções do BC no mercado de câmbio revela nitidamente a intenção de continuar com uma política que, na avaliação de dez entre dez economistas do governo, é um dos pilares da estabilidade que o País tem mostrado no meio dessa turbulência em escala global. Foi essa política que levou o Brasil a contar com reservas que, até a última sexta-feira, já somavam US$ 186 bilhões. Elas garantem uma relativa estabilidade do dólar, e, conseqüentemente, da inflação, em caso de uma fuga maciça de capitais do Brasil. O professor da PUC-SP Antônio Corrêa de Lacerda concorda com a manutenção das compras de dólares em mercado durante as turbulências. Para ele, com essa atitude, o BC diminui a volatilidade do mercado de câmbio, que é prejudicial para os exportadores, e ainda dá um sinal claro de continuidade da estratégia saudável de acumular reservas. "O BC está certo, é importante neste momento de ajuste mundial de preços de ativos que se trabalhe para diminuir a volatilidade", diz ele. "Além disso, o maior volume de reservas, embora não impeça a crise, é uma barreira significativa contra ela. É uma grande vantagem que diferencia a economia brasileira hoje de outros momentos na história", observa Lacerda. As reservas vêm sendo citadas constantemente pelos dois comandantes da equipe econômica, o ministro da Fazenda, Guido Mantega, e o presidente do BC, Henrique Meirelles. Este último, na abertura da reunião ministerial nessa semana, destacou as reservas como um dos cinco motivos que garantem a solidez da economia brasileira para enfrentar a crise sem maiores danos. Apesar do discurso otimista, ao longo de todo esse período mais agudo de turbulências a preocupação do governo com os rumos da economia americana e mundial aumentou de forma significativa. Com as violentas oscilações dos indicadores do mercado financeiro, Meirelles e Mantega aumentaram a quantidade de conversas, sobretudo telefônicas, para discutir e se informar sobre a crise e seus efeitos no Brasil. No Ministério da Fazenda, até quarta-feira, quando a temperatura dos mercados estava muito alta, os auxiliares de Guido Mantega, a todo momento, produziam relatórios e o atualizavam sobre os dados mais relevantes. Também pôde ser notada uma diminuição na quantidade de manifestações públicas de Mantega, que se notabilizou por falar com os jornalistas freqüentemente, mais de uma vez por dia, na portaria do ministério. O crescimento do temor no governo ficou mais claro na segunda-feira, quando Meirelles, Mantega e o presidente Luiz Inácio Lula da Silva falaram, quase um em seguida do outro, mas em locais diferentes, sobre a crise americana. Expressões como "atenção", "olhos abertos" e "preocupação" foram freqüentes tanto em público quanto nos bastidores. Mas também foi onipresente a afirmação de que o País hoje possui bem melhores condições para lidar com uma crise na principal economia do planeta. Tanto que Meirelles, em meio ao pânico de segunda-feira nos mercados, disse que sua mensagem era uma só: "Estamos preparados." Mas, na dúvida, tanto ele quanto Mantega e Lula falaram que, se necessário, medidas serão tomadas, embora em nenhum momento tenham apresentado sequer um rascunho de que medidas seriam essas.

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