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Reservas provadas de petróleo e gás da Petrobrás são as mais baixas do século

Mesmo com a descoberta do pré-sal, volume das reservas da companhia em condições de serem comercializadas cai desde 2014

Por Fernanda Nunes
Atualização:

RIO - Nem mesmo a descoberta do pré-sal impediu que a Petrobrás fechasse o ano de 2019 com o menor volume de reservas provadas deste século, segundo dados divulgados pela empresa. As reservas estão caindo desde 2014, ano em que a petrolífera adotou como prioridade atingir metas financeiras, principalmente de redução da dívida, em detrimento dos investimentos na área operacional, para explorar e descobrir novas oportunidades. 

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Reservas provadas correspondem aos volumes de petróleo e gás descobertos, em condições operacionais e econômicas de serem comercializados. À medida que essas reservas são consumidas, é preciso descobrir novas para repô-las, caso contrário, os volumes decrescem ano a ano. Para que isso não ocorresse, a empresa precisaria descobrir mais petróleo do que retira do mar, o que depende de investimento na exploração do subsolo. 

Isso vale mesmo para o pré-sal, onde, projeta-se, há um grande volume de óleo armazenado, que não chega a ser contabilizado como reserva porque ainda não há certeza de que ele pode ser comercializado. 

Segundo pesquisa dos professores da Universidade Estadual do Rio de Janeiro (UERJ) Cleveland Jones e Hernane Chaves, há sinais de existência de pelo menos 176 bilhões de barris de recursos não descobertos e recuperáveis de petróleo e gás na área do polígono do pré-sal. Essa é uma região identificada como de alto potencial, localizada do litoral do Espírito Santo até Santa Catarina. 

A transformação desses recursos em reservas provadas exigiria, no entanto, um volume significativo de investimento. Mas, num sentido contrário, de 2014 a 2019, os investimentos da Petrobrás em exploração e produção despencaram de US$ 25,5 bilhões para US$ 10,7 bilhões.

Estudo do Instituto de Estudos Estratégicos de Petróleo, Gás Natural e Biocombustíveis (Ineep), passado com exclusividade para o Estadão/Broadcast, demonstra que, em 2019, as reservas provadas da Petrobrás estavam em 9,59 bilhões de barris equivalentes de petróleo (boe), o que representou uma queda de mais de 3,5 bilhões de boe comparado a 2014 e uma contração ao patamar do ano 2000 (de 9,76 bilhões de boe). Isso significa que, de 2014 a 2019, as reservas descobertas não foram suficientes para repor todo o petróleo consumido no período. 

Plataforma da Petrobrás no Rio: de 2014 a 2019, investimentos em exploração e produção caíramde US$ 25,5 bilhões para US$ 10,7 bilhões. Foto: Wilton Junior/Estadão - 28/1/2020

As reservas provadas são importantes para uma empresa de petróleo porque mostram a sustentabilidade da produção no longo prazo. A questão das reservas foi uma das principais causas da derrocada da petroleira OGX, do empresário Eike Batista. A companhia teve um bom desempenho na Bolsa ao anunciar reservas potenciais muito grandes. Posteriormente, verificou-se que boa parte da exploração era inviável. 

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Isso não se aplica, claro, ao caso da Petrobrás, que tem um volume ainda confortável de reservas provadas. Mas a queda acende um sinal de alerta. 

"Para aumentar a reposição de reservas, são necessários novos investimentos em exploração. Apesar dos recursos contingentes no pré-sal, são esses investimentos que permitirão à Petrobrás elevar suas reservas provadas e interromper essa trajetória de queda dos últimos anos. Se nada for feito, no médio prazo, a Petrobrás terá dificuldade de elevar sua produção de forma consistente e os investidores poderão sentir os efeitos disso”, avaliou o coordenador técnico do Ineep, Rodrigo Leão, que utilizou dados divulgados pela estatal para elaborar seu estudo. 

Procurada, por meio de sua assessoria de imprensa, a Petrobrás optou por não se posicionar.

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