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Reservatórios do Sudeste apresentam o menor nível em 5 anos

Chuvas de dezembro ficaram 73% abaixo da média histórica e, em janeiro, a escassez é de 50%

Por Luís Henrique Trovo e de O Estado de S. Paulo
Atualização:

Os principais reservatórios das regiões norte e nordeste do Estado de São Paulo e do sul de Minas Gerais, responsáveis pelo fornecimento de energia elétrica no Sudeste brasileiro, estão com os menores níveis dos últimos cinco anos devido à falta de chuvas nos meses de dezembro e janeiro. Veja também:Os níveis dos reservatórios'Isso vai ser uma paulada na conta de energia do próximo ano''Não me venham com cortes de luz'  De acordo com dados do Operador Nacional do Sistema Elétrico (ONS), órgão que controla e coordena a geração e transmissão de energia em todo país, os níveis das hidrelétricas de Furnas (São José da Barra-MG) e de Marimbondo (Fronteira-SP), por exemplo, estão em 56,74% e 13,89%, respectivamente, da capacidade de armazenamento de água. Em 2002, o nível de janeiro atingido na usina de Furnas chegou a 43,77%. Daquele ano para cá, o reservatório manteve-se estável. Em Marimbondo, a situação é mais preocupante, pois desde 2000 não é registrado nível tão baixo. O menor foi em 2001 (15,55%). É uma situação bem diferente do ano passado, quando as reservas hídricas de Furnas alcançaram 91,02% e de Marimbondo 84,40%. Segundo a assessoria de imprensa do ONS, o momento crítico destes dois reservatórios contribuiu para a decisão de colocar em operação todas as termoelétricas do país para suprir a demanda de energia. As termoelétricas geram energia a partir da queima de derivados de petróleo e biomassa. Além disso, para economizar os recursos destas hidrelétricas, o governo anunciou na quinta-feira a ativação de seis usinas termoelétricas a óleo localizadas na região Sudeste. Somadas, essas usinas têm capacidade para gerar 800 megawatts (MW) de imediato. Em um segundo momento, após solucionar questões que envolvem o transporte do combustível, a geração de energia pelas térmicas a óleo do Sudeste pode chegar a 1.200 MW. Hoje o consumo total de energia no País é de 53.381 MW. Além disso, segundo o ministro interino de Minas e Energia, Nelson Hubner, a partir da segunda semana de fevereiro será concluído o gasoduto Cabiúnas-Vitória, que transportará um volume adicional de 5,5 milhões de metros cúbicos diários de gás natural da Bacia do Espírito Santo. Com esse gás novo, já em fevereiro a térmica de Macaé (RJ) poderia acrescentar mais mil MW ao sistema. Chuvas O ONS constatou que as chuvas de dezembro ficaram 73% abaixo da média histórica e, em janeiro, a escassez é de 50%. O órgão afirma que enquanto não houver uma melhor definição sobre as condições climáticas para os próximos dias, as termoelétricas continuarão operando para equilibrar o armazenamento de água nos reservatórios das hidrelétricas. Situação nas demais regiões Mais cedo, o ONS divulgou a situação na Região Nordeste. De acordo com os dados apresentados, lá a situação permaneceu estável na comparação entre o dia 9 e o dia 10 de janeiro. O nível dos reservatórios da região ficou em 27,1% da capacidade total. Já o volume de água disponível nas hidrelétricas da Região Sul continua diminuindo. Ontem, recuou 0,5 ponto porcentual, para 73,2%. No Norte, o nível de armazenamento manteve o ritmo de queda de 0,1 ponto porcentual, de 29,8% para 29,7% entre ontem e o dia anterior. Governo descarta racionamento Apesar dessas medidas emergenciais, o governo continua descartando um novo apagão. Hubner disse ainda que o governo não vê necessidade de fazer campanhas junto à população para incentivar a economia de energia porque, segundo ele, neste momento, todo o esforço está sendo feito no sentido de buscar alternativas de energia. Hubner descartou também reflexos ao consumidor, como aumento de tarifas, como decorrência do acionamento das térmicas. Contudo, analistas já avaliam que a medida vai pesar no bolso do consumidor nos próximos reajustes tarifários. Isso porque a produção de energia nas térmicas é mais cara. Todo o custo das usinas a óleo diesel e combustível que entraram em operação nos últimos meses por determinação do Comitê de Monitoramento do Setor Elétrico (CMSE) será rateado entre todos os usuários do sistema, destaca o professor do Instituto de Economia da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), Adilson de Oliveira. Segundo ele, o custo de geração dessas usinas pode superar R$ 700 por megawatt/hora (MWh) produzido. "Pelo que estamos vendo essas térmicas terão de funcionar durante quase o ano inteiro para que o País não tenha um problema de racionamento. Se as chuvas não recuperarem os reservatórios, serão essas usinas que vão ajudar na geração de energia durante o período seco, que vai até o fim de outubro. Isso vai significar uma paulada na conta de energia do próximo ano."

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