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Resgate dá força para EUA pressionarem G-20

Boa aceitação de pacote americano pode influenciar europeus a abrir cofres e reduzir foco na regulação

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Por Lourival Sant'Anna
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Com o pacote de US$ 1 trilhão, os Estados Unidos colocam-se na posição de pressionar os países europeus a abrir os cofres para impedir a quebra dos bancos e injetar dinheiro na economia. Detalhado dez dias antes da Cúpula do G-20, em Londres, o pacote tem impacto sobre a agenda e as negociações na reunião de chefes de Estado e de governo das 20 maiores economias do mundo. "A agenda do G-20 passa pelo esforço coletivo de aumentar os incentivos fiscais", diz o consultor Rubens Barbosa, ex-embaixador em Londres e em Washington. "Os EUA não vão abrir mão de querer que os outros países, sobretudo os europeus, façam os mesmos esforços que eles estão fazendo." Nos preparativos para a reunião do dia 2, americanos têm colocado ênfase no saneamento do sistema financeiro para a retomada do crédito e da atividade econômica, enquanto europeus priorizam a regulação. "O pacote muda a lógica do G-20", analisa Alessandra Ribeiro, economista da Tendências Consultoria Integrada. "Ainda mais com a boa repercussão no mercado, como um plano que tem futuro, vai causar um direcionamento da discussão para a questão financeira, e para que os europeus lancem pacotes similares." Os EUA, diz Alessandra, estão agora em posição mais forte para cobrar medidas de estímulo fiscal por parte dos europeus. E vencer as resistências, sobretudo da Alemanha, em ajudar os países do Leste Europeu, mais fragilizados pela crise. "Não acredito que os europeus vão abrir os cofres para cobrir os débitos impagáveis", duvida José Augusto Guilhon Albuquerque, pesquisador do Núcleo de Pesquisa em Relações Internacionais da Universidade de São Paulo. "O pacote vai na direção oposta da agenda da regulação", observa. "Parte do pressuposto de que a racionalidade do sistema vai voltar, uma vez passado o desespero." Na campanha presidencial, Barack Obama defendeu a reforma dos sistemas de regulação e supervisão. Em artigo publicado ontem em vários jornais, ele pediu uma ação coordenada na cúpula do G-20 para "impedir a assunção irresponsável de riscos que causou a crise atual" e disse que iria "adiantar reformas abrangentes do arcabouço regulador e supervisor". Obama também fez menção à agenda comercial, embora a tenha projetado em prazo mais longo. O governo brasileiro defende a retomada da Rodada Doha na Organização Mundial do Comércio (OMC). Com o desemprego, torna-se complicado falar em abertura comercial, pois há uma percepção de que ela "exporta" empregos dos países desenvolvidos para os mais pobres. "Essa agenda vai ficar abandonada nesse ambiente de crise", prevê Alessandra. "Não há a menor chance de retomada de Doha", avalia Barbosa. "Num momento de crise, isso é poesia."

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