PUBLICIDADE

Resgate trilionário

Foto do author Celso Ming
Por Celso Ming e celso.ming@grupoestado.com.br
Atualização:

Tudo se passa como se estivesse em curso uma ação concertada para que os bancões americanos, antes à beira do precipício, passassem a exibir inesperada saúde financeira. Há uma semana, as ações do Citigroup, maior banco americano, estavam sendo negociadas na Bolsa de Nova York a US$ 0,97, queda de mais de 98% sobre as cotações de dois anos atrás. Ontem fecharam a US$ 1,67, alta de 72% sobre o fundo do poço. A novidade foi o anúncio feito terça-feira pelo presidente do Citi, Vikram Pandit, de que seu banco acusara lucro no primeiro bimestre do ano, surpreendente para um sério candidato a virar pó. Anteontem foi a vez do JP Morgan Chase, cujo presidente, Jamie Dimon, tratou de espalhar que também seu banco saiu do vermelho. E, ontem, foi o Bank of America: deverá fechar 2009 com lucro de aproximadamente US$ 50 bilhões, avisou o presidente Ken Lewis. Anúncio após anúncio, os mercados festejaram. Ainda será preciso conferir como, de repente, três bancos tão dramaticamente atolados em ativos podres estão dando a volta por cima. Ninguém se iluda, esses anúncios devem ter sido abençoados pelo secretário do Tesouro americano, Tim Geithner, que aparentemente ainda não sabe como enfrentar o desafio político da operação de resgate. Terça-feira, no Washington Post, o estrategista financeiro David Smick avisou que o rombo consolidado dos bancos americanos alcança a bagatela de US$ 2 trilhões. Isso significa que, se o objetivo for salvar os bancos, o Tesouro terá de pingar o equivalente a dois terços da arrecadação do governo americano em um ano. Esse número leva em conta que os ativos podres carregados pelos bancos não valem mais do que algo entre 5 centavos e 30 centavos para cada dólar do seu valor de face. Deixar de repassar coletes salva-vidas implicaria provocar uma calamidade. O desastre produzido no mercado global pelo colapso do Lehman Brothers, em setembro, foi suficientemente espantoso para que as autoridades evitem produzir novas grandes vítimas. Um grande banco não afunda sozinho e um naufrágio em cadeia dispararia a necessidade de cobertura para alguma coisa em torno de US$ 40 trilhões apenas em CDS (Credit Default Swaps), derivativos acionados para o caso de calotes. A título de comparação, o articulista do Washington Post observa que o PIB global do período de um ano não passa de US$ 60 trilhões. O problema é que o contribuinte americano até agora não entendeu por que o dinheiro do povo tem de ser repassado para salvar bancos irresponsáveis, num cenário devastador de desemprego, quebra de salário e execução de hipotecas. É o que parece ter levado Geithner a adotar a estratégia de ganhar tempo, na esperança de que algo novo apareça e contribua para ajudar a fazer a cabeça dos formadores de opinião de que fica mais barato salvar os bancos. Antes de injetar centenas de bilhões de dólares, Geithner determinou que cada um dos 20 maiores bancos americanos fosse submetido a um teste de estresse que definisse antecipadamente qual o volume de capital necessário para salvá-lo. O que deve ser perguntado agora é até que ponto o anúncio em cadeia da nova safra de lucros faz parte do jogo político e o que corresponde à recuperação de fato dos bancos. Confira Top 50 - O diário britânico Financial Times fez uma lista de 50 personalidades globais que teriam com que contribuir para enfrentar a crise. Encabeçam a lista Barack Obama, Wen Jiabao, Angela Merkel, Nicolas Sarkozy, Gordon Brown e Vladimir Putin. Conta com alguns dos atuais presidentes de bancos centrais, ministros de Finanças, economistas famosos, empresários e grandes investidores. O único brasileiro que está lá, no 45º lugar, é Carlos Ghosn, o presidente do grupo Nissan-Renault. Paulo Skaf, da Fiesp, deve estar decepcionado com a imprensa inglesa.

Comentários

Os comentários são exclusivos para assinantes do Estadão.