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Todas as informações do BNDES estão disponíveis, diz Luciano Coutinho sobre 'caixa-preta'

Ex-presidente do banco de fomento afirmou que instituição tem 'total transparência'; após a saída de Coutinho do banco, em 2016, foram instalados cinco processos de investigação interna sobre operações com Odebrecht e J&F

Por Vinicius Neder
Atualização:

RIO - Todas as informações sobre as operações do Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES) estão disponíveis no site da instituição, garantiu nesta quarta-feira, 19, o ex-presidente da instituição Luciano Coutinho, ao ser questionado se há "caixa-preta" a ser aberta. Ele destacou que foram feitas auditorias sobre as operações do banco após sua saída e demonstrou "inconformismo" com o fato de ter se tornado réu no processo judicial relacionado à Operação Bullish, que investiga o apoio ao frigorífico JBS.

"Começamos com o processo de transparência na instituição. Esse processo foi aperfeiçoado. Hoje, a instituição tem uma total transparência, com todos os contratos (no site)", afirmou Coutinho, após participar de ato de repúdio à proposta de mudar o destino dos recursos do Fundo de Amparo ao Trabalhador (FAT), principal fonte do BNDES, feita no relatório da reforma da Previdência.

Os ex-presidentedo BNDESLuciano Coutinho em ato na sede do banco. Foto: Wilton Junior/Estadão

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Ele destacou que as auditorias foram feitas por presidentes que não tinham compromisso com sua gestão. "Foram feitas aqui auditorias, após a minha saída, e portanto com outros presidentes, que não tinham nenhuma razão por que defender o período anterior. O mínimo que se tem a fazer é olhar o resultado (das auditorias)", disse o ex-presidente do BNDES.

Vários megaprojetos financiados pelo BNDES são objeto de suspeitas ou investigações de corrupção. Além dos empréstimos para obras no exterior e dos aportes no frigorífico JBS, fazem parte da lista a construção da Hidrelétrica de Belo Monte, investimentos bilionários da Petrobrás e as obras da Usina Nuclear Angra 3.

Desde a saída de Coutinho, em 2016, a diretoria do banco instalou cinco processos de investigação interna, sobre as operações com o grupo Odebrecht e com o grupo J&F, do JBS. Já encerradas, as apurações concluíram que não há indícios de participação de funcionários em atos de corrupção.

Coutinho também disse que ficou "feliz" com o reconhecimento da "lisura" dos funcionários do BNDES no processo judicial da operação Bullish. Em maio passado, a Justiça Federal do Distrito Federal rejeitou a denúncia do Ministério Público Federal (MPF) contra cinco funcionários e ex-funcionários do BNDES.

As investigações da Bullish apontaram irregularidades em operações de junho de 2007 a dezembro de 2009. No total, o BNDES contratou R$ 8,1 bilhões com o frigorífico, a maior parte em operações de compra de participação acionária. Os recursos ajudaram o JBS, do qual o BNDES é sócio até hoje, a fazer aquisições no exterior, tornando-se a maior processadora de carnes do mundo, ícone da política conhecida como "campeões nacionais". Segundo o MPF, o BNDES teria perdido R$ 1,8 bilhão.

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Na mesma decisão, Coutinho, o ex-ministro da Fazenda Guido Mantega e mais três pessoas se tornaram réus. "No meu caso, tenho que manifestar meu total inconformismo pelo fato de ter sido acolhida a denúncia. Quero deixar claro que não estou acusado de corrupção. O que pesa contra mim são outras acusações, cuja demonstração é impossível, pelo fato de que sempre me comportei com absoluta ética e respeito a todos os normativos e a lei. Isso será corrigido com o tempo", afirmou Coutinho.

Ex-presidentes do BNDES participaram de protesto organizado por funcionários contra mudança no repasse do FAT. Foto: Wilton Junior/Estadão

Mudança no FAT pode frustrar recuperação da economia 

Uma redução excessiva do BNDES ou a eventual extinção da instituição de fomento, com a retirada dos recursos do FAT pode "frustrar" a possibilidade de uma recuperação da economia, afirmou Coutinho. Segundo ele, no contexto atual, a recuperação da economia depende dos investimentos em infraestrutura.

A questão, segundo ele, é que os volumes de investimento necessários na economia brasileira são muito elevados, a ponto de não serem suficientemente financiados por recursos privados. O ex-presidente do BNDES estimou que o nível mínimo de investimentos em infraestrutura, cerca de 4,5% do Produto Interno Bruto (PIB), implica investir R$ 370 bilhões ao ano, sendo que em torno de R$ 300 bilhões seriam financiados.

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Para o economista, as fontes privadas de financiamento, como o mercado de capitais, são importantes e poderiam dividir com o BNDES esses R$ 300 bilhões anuais, mas dificilmente passariam desse nível. "Dispensar o papel de uma instituição como o BNDES, que tem experiência técnica e capacidade comprovada, e debilitar o principal esteio do seu funding (o FAT), significa frustrar a possibilidade de um projeto de recuperação do País, por estrangulamento de funding", afirmou Coutinho.

O ex-presidente do BNDES participa nesta quarta-feira de ato contra a retirada da destinação dos recursos do FAT como fonte de financiamento do banco, ao lado de outros três ex-presidentes da instituição, nos governos Fernando Henrique Cardoso (Pio Borges) e Michel Temer (Paulo Rabello de Castro e Dyogo Oliveira).

A ideia de mudar a destinação do FAT está no relatório da proposta de emenda à Constituição (PEC) da reforma da Previdência da Comissão Especial da Câmara, elaborado pelo deputado Samuel Moreira (PSDB-SP). Hoje, 40% da receita anual do FAT vai para o BNDES. O relatório propõe direcionar os recursos para pagar pensões e aposentadorias.

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Coutinho é o mais longevo presidente do BNDES, tendo permanecido no cargo entre 2007 e 2016, nos governos Luiz Inácio Lula da Silva e Dilma Rousseff. O economista estava à frente do BNDES quando foram feitas as operações mais polêmicas nos governos do PT, como o apoio à formação de multinacionais brasileiras (chamada de política de "campeões nacionais") e os empréstimos às obras no exterior.