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Retomada dos EUA com data marcada

Índices da atividade econômica mostram que recessão perdeu força e ceticismo dá lugar a previsões de virada

Por Patrícia Campos Mello
Atualização:

Em meados de março, o presidente do Federal Reserve (Fed, o banco central americano), Ben Bernanke, falou em "brotos verdes" da recuperação. Na época, muitos analistas se mostraram céticos. No começo de abril, o presidente Barack Obama falou em "raios de esperança" na atividade econômica. Ainda havia dúvidas. Mas agora, a maioria dos economistas aposta que a economia americana chegou ao fundo do poço e a virada vai começar. O relatório de empregos divulgado na sexta-feira, que mostrou a eliminação de 539 mil vagas em abril, seria horroroso em outras circunstâncias. Mas, no atual contexto econômico, aponta que a recessão desacelerou. Em janeiro, foram eliminadas 741 mil vagas e, em março, 699 mil. "Chegamos a um ponto em que podemos dizer: o pior já passou", diz Nariman Behravesh, economista-chefe da IHS Global Insight. Fazer previsões sobre crescimento econômico é uma ciência sabidamente falha. Mas uma série de indicadores da economia americana aponta que a recessão deve terminar em setembro ou outubro. Existem dois pontos de inflexão, explica Lakshman Achuthan, presidente do Instituto de Pesquisas de Ciclos Econômicos. Um se refere ao crescimento, e ocorre quando o Produto Interno Bruto (PIB) passa a encolher a taxas menores - é nesse ponto que estamos agora. A economia americana, depois de encolher 6,3% no último trimestre de 2008 e 6,1% no primeiro trimestre deste ano, deve retrair "apenas" de 2,5% a 3% no segundo trimestre. O outro ponto é quando a economia de fato sai da recessão e começa a ter crescimento positivo - esse só deve vir em setembro, calcula Achuthan. O instituto foi fundado por Geoffrey H. Moore, idealizador dos chamados indicadores antecedentes, que apontam para onde vai a economia. O histórico de acertos é muito bom - projetou em 95% das vezes o início de uma recessão, segundo a revista The Economist. "O ritmo da recessão está desacelerando", diz Achuthan. Isso não quer dizer que as pessoas na rua estão respirando aliviadas e que já se notam melhoras no dia a dia. "Os indicadores que retratam a atual condição da economia - vendas e renda, produto e nível de desemprego - continuam caindo no maior ritmo desde a Segunda Guerra Mundial, e essa é a confirmação de que estamos na pior recessão desde a lá", diz Achuthan. "Mas os indicadores antecedentes, que mostram o futuro, estão decididamente positivos e já apontam para o fim da recessão." Normalmente, uma vez que esses indicadores se tornam consistentemente positivos, o país sai da recessão em até quatro meses. A única vez que houve um "alarme falso" de recuperação foi em 1929, quando a economia melhorou, mas depois o crescimento voltou a despencar e a recessão virou depressão. "Mas os indicadores não apontam para nada parecido desta vez", diz Achuthan. São vários os indicadores mostrando que a economia americana ou já chegou ao fundo do poço, ou está bem próxima disso. A confiança do consumidor anda em alta - indicando que os americanos podem estar se preparando para voltar às compras. Gastos com construção tiveram leve alta em março, de 0,3%, depois de seis meses de queda. Indicadores sobre o setor de serviços estão caindo menos. A taxa Libor caiu de um pico de 4,82% em setembro para 0,99% na terça-feira. Nos EUA, as vendas de carros estão abaixo da taxa de reposição (mínimo de carros para substituir os que quebram). E houve uma redução grande nos estoques. "O estímulo monetário e fiscal maciço começou a fazer efeito, especialmente na China", diz Ed Yardeni, presidente da Yardeni Research. Para Yardeni, essa será a primeira recuperação que vai começar nos emergentes, entre eles China, Índia e Brasil. O problema é que a recuperação da economia americana promete ser bem anêmica, alertam os economistas. A ressaca de uma bolha acionária e imobiliária de décadas não vai passar tão rapidamente. Os consumidores continuam muito endividados, por isso não vão voltar a ser as locomotivas de crescimento que foram nos últimos anos, diz Nariman, da IHS Global Insight. "Vão ter que poupar mais e, como consequência, o consumo vai demorar mais para voltar ao normal", analisa a economista-chefe. "Provavelmente teremos uma recuperação sem empregos, com o desemprego chegando a 10% no início do ano que vem; e a taxa não vai cair apenas gradualmente, em 2012, ainda vai estar em 8%." A IHS projeta crescimento nos Estados Unidos ainda negativo no segundo trimestre, entre -2% a -3%, de 1% no terceiro trimestre e 3% no último.

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