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Retomada prevista deve demorar mais

Indicadores apontam que a recuperação da indústria ainda não se confirmou, apesar do aumento da confiança do mercado com a retomada

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Por Anna Carolina Papp
Atualização:
Produção de veículos teve queda de 3,2% em setembro na comparação com o mês de agosto Foto: Washington Alves/Estadão

Apesar do avanço dos índices de confiança em todos os setores nos últimos meses, a atividade econômica ainda custa a reagir. Com dados decepcionantes na indústria, que vinha esboçando uma recuperação, e um PIB negativo à vista no terceiro trimestre, recai sobre o governo mais pressão para aprovar as propostas de ajuste fiscal e fazer com que a economia volte a crescer no ano que vem. 

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Na semana passada, o País colecionou uma série de números negativos na indústria, alarmando analistas e indicando que a retomada pode ser mais lenta do que se espera. A produção industrial, por exemplo, recuou 3,8% em agosto, interrompendo cinco meses de alta. No setor automobilístico, a produção de veículos teve baixa de 3,2% em setembro ante agosto e de 2,2% em relação a setembro do ano passado - menor nível para o mês desde 2003. Já as vendas de veículos recuaram 13% em setembro. 

“Até começamos a ver alguns efeitos iniciais do aumento de confiança, como na venda de veículos, que estava começando a se estabilizar, mas depois tivemos números ruins”, afirma Alessandra Ribeiro, sócia da Tendências Consultoria Integrada. Ela pondera, no entanto, que parte do resultado negativo se deve a paralisações em fábricas de automóveis, como na Volkswagen. “Mesmo assim, tivemos uma perda de dinamismo do mercado doméstico.” A consultoria prevê retração de 0,2% do PIB no terceiro trimestre e de 3,1% em 2016. 

Já o Instituto Brasileiro de Economia da Fundação Getúlio Vargas revisou para baixo sua projeção para o terceiro trimestre, com queda de 0,5%. Para o economista Armando Castelar, há um excesso de otimismo no mercado. “Os índices de confiança têm subido porque as expectativas em relação ao futuro têm aumentado, e não porque a situação atual tem mostrado uma melhora muito significativa.” 

 Foto: Infográficos/Estadão

Pressão fiscal. O bom humor do mercado nos últimos meses se deu porque, na avaliação de analistas, a equipe econômica de Michel Temer teria mais condições de realizar o ajuste fiscal e, com isso, tirar o País da recessão. Com a fragilidade dos números observados no terceiro trimestre, porém, engrossa o coro para que o governo aprove a Proposta de Emenda à Constituição que limita os gastos públicos à inflação do ano anterior, a chamada “PEC do Teto”, e para encaminhar a reforma da Previdência.

“Se a PEC do Teto não passar no Congresso, a gente vai voltar para uma situação extremamente delicada de desorganização econômica”, afirma José Camargo Márcio Camargo, professor de Economia da PUC-Rio. “Isso porque a melhora da percepção tem muito a ver com o fim da insegurança em relação à trajetória do déficit público.”

A aprovação da emenda seria, em grande medida, um gatilho para outro movimento no radar do mercado: o início da redução da taxa de juros pelo Banco Central. “Para que o índice de confiança elevado se traduza em aumento de consumo e de investimento, a gente precisa da redução de juros”, afirma Fabio Silveira, sócio-diretor da MacroSector Consultores. “Sem criar apetite de risco, vamos ficar patinando: o empresário não investe, a família não faz dívida.”

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Ainda é uma incógnita o quanto os juros poderão cair, dada a resistência da inflação, apesar do alívio do IPCA em setembro, de 0,08%. Mesmo assim, a expectativa é de que no quarto trimestre o PIB fique ao menos estável, após sete trimestres no vermelho, para ensaiar o crescimento da atividade econômica em 2017. As percepções, no entanto, divergem muito. O Fundo Monetário Internacional prevê uma alta de 0,5%. Os analistas ouvidos pelo Boletim Focus, do Banco Central, projetam 1,3%; o governo, 1,6%, e alguns analistas chegam a 2%. “Há uma sensação generalizada de que a recessão está chegando ao fim e de que vai haver uma virada”, afirma a economista Monica de Bolle. “Mas os indicadores estão ambíguos porque essa recuperação não vai ser nem muito intensa nem muito rápida. Isso porque não se trata de uma mera recuperação cíclica: houve muita destruição de renda.” 

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