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Retração e desemprego afetam negociações salariais

Por Agencia Estado
Atualização:

Pouco mais da metade das categorias profissionais que negociam salários no primeiro semestre obtive reposição da inflação ou ganho real do poder de compra este ano. De acordo com o Departamento Intersindical de Estatísticas e Estudos Sócio-Econômicos (Dieese), 59% (146) dos 248 sindicatos pesquisados em quase todos os Estados repuseram, no primeiro semestre, no mínimo, a inflação medida pelo INPC-IBGE. Em 2001, 68% das categorias obtiveram no mínimo recomposição da inflação ante 2000. Segundo o coordenador de atendimento do Dieese, Wilson Amorim, o levantamento mostra que as negociações neste ano, por conta das dificuldades econômicas e aumento do desemprego, foram mais complicadas. "O que condiciona a negociação coletiva é a economia. O que se olha é o desemprego e a inflação. Se os dois estão crescendo, a negociação é mais difícil", explicou. "A conjuntura de negociação (hoje) é desfavorável". Um dado que reflete essa complicação é que apenas 13 (5,2%) das 248 categorias pesquisadas negociaram abono salarial no primeiro semestre. E, mais grave, 11 delas tiveram reposição abaixo da inflação. Ou seja, explica Amorim, o abono substituiu o aumento salarial, o que é bom apenas para a empresa, que deixa a recuperação para o ano seguinte, com uma base menor, porque neste ano não houve aumento real do salário. Outro dado que configura as dificuldades encontradas pelos negociadores é que, segundo o Dieese, 56,4% das 248 categorias analisadas tiveram reajustes em um intervalo de 2% acima ou abaixo do INPC-IBGE, índice amplamente preferido para as negociações. Do total, 26,61% das categorias tiveram reajuste igual ao INPC-IBGE, 24,19% tiveram até 1% maior do que o índice de reajuste, 4,03% obtiveram de 1% a 2% acima e 1,61% teve entre 2% e 3% a mais. Apenas 2,42% tiveram aumento 4% acima do INPC-IBGE. Dos 41,13% que não conseguiram recuperar o salário nem na proporção do índice de referência, a maioria está a até 2% abaixo. Por setores, as categorias ligadas à indústria e ao comércio foram as que mais sucesso tiveram nas negociações. Nas do setor industrial, 66,4% tiveram recuperação salarial igual ou superior ao INPC-IBGE; nas do comércio, 65,7%. Entre as categorias do setor de serviços, 40% tiveram recuperação salarial igual ou superior à inflação. No primeiro semestre do ano passado, as categorias dos três setores tiveram mais sucesso: 93% das categorias do comércio tiveram aumento maior que a inflação, 73% das industriais e 66% das de serviços. Por região do País, as categorias localizadas no Sul tiveram os melhores resultados: 80,21% tiveram no mínimo recuperação integral da inflação. "Isso se deve, em grande parte, à maior oferta de energia elétrica no ano passado, porque os Estados do Sul não tiveram racionamento. Então a economia lá pôde se desenvolver mais livre", disse Wilson Amorim. As regiões Norte e Nordeste tiveram os piores resultados, uma vez que 54,84% das categorias não chegaram a ter reposição inflacionária. O analista do Dieese acredita que as negociações continuarão difíceis neste ano e também no ano que vem. "No segundo semestre tem as eleições, que são um fator de instabilidade. Deve haver muita renovação de cláusulas, alguns acordos salariais, deixando coisas para o ano que vem", disse Amorim. Para ele, no ano que vem, independentemente de assumir Luiz Inácio Lula da Silva (PT) ou José Serra (PSDB), as negociações serão complicadas. "O País não crescerá muito. O que manda nas negociações é a economia, elas não dependem do fator político", avaliou. Para ele, os setores que poderão ter melhores acordos em 2003 são os exportadores.

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