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Retratos do mercado de trabalho

Sem crise para abrir uma nova cervejaria

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Por Redação
Atualização:
Zanetti e os sócios investem R$ 4 milhões em fábrica Foto: Gilberto Viegas/Estadão

Zanetti e os sócios investem R$ 4 milhões em fábrica

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Foi em meio a protestos pelo impeachment da presidente da República e estimativas de queda no PIB do País, no ano passado, que o empresário Valmir Zanetti, de Blumenau, decidiu iniciar uma das maiores empreitadas de sua trajetória empreendedora. 

Dono de uma loja de cervejas na cidade da Oktoberfest, ele está construindo, com um grupo de investidores, sua própria cervejaria, com investimentos de R$ 4 milhões. Os tanques já estão a caminho e a produção está prevista para começar no dia 12 julho. A decisão de investir num momento em que o País vive a pior recessão de sua história está ancorada em duas premissas: a de que Santa Catarina está numa situação mais confortável que a de outros Estados.

E porque essa, segundo ele, é a hora do “safety car” – numa referência ao carro de segurança que, na Fórmula 1, entra na pista em momentos críticos e coloca os adversários em fila indiana, diminuindo a vantagem entre eles. “Quando a economia retomar o crescimento, estaremos prontos para competir.” Até dezembro, a cervejaria deve ter 12 funcionários para produzir 100 mil litros da bebida, numa estrutura que tem capacidade para chegar a 500 mil. Hoje, a empresa tem quatro empregados, entre eles dois cervejeiros. A produção de 10 mil litros por mês é feita em fábricas alugadas. 

Zanetti é um entusiasta de Blumenau. Tanto que sua cerveja leva o nome da cidade. “É sinônimo de disciplina, organização, respeito, de querer fazer melhor”, diz. “Essa cultura herdada dos imigrantes alemães é um dos fatores que faz a cidade sofrer menos com uma crise econômica.” Ele ressalta ainda uma outra herança dos colonizadores europeus: a do cooperativismo. Os copos com a marca Blumenau, por exemplo, são feitos por uma empresa da região. “Antes de pensar no resultado ou no turista, tem que ser bom para nós, tem que incentivar a produção local.” / Naiana Oscar

Demitido no Rio Grande do Sul, programador se mudou para Santa Catarina

Pádua está há quatro meses em Blumenau Foto: Gilberto Viegas/Estadão

Pádua está há quatro meses em Blumenau 

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O gaúcho André de Pádua, de 26 anos, está há quatro meses em Blumenau. Trocou de cidade, como tantos outros, para trabalhar. Ele ficou desempregado no fim do ano passado depois que a companhia que o empregou por seis anos fechou a unidade que mantinha em Passo Fundo, sua cidade natal. 

O programador buscou oportunidades pela internet e acabou sendo contratado pela Philips, em Blumenau, região que só conhecia, até então, por causa da Oktoberfest. A multinacional comprou uma empresa local de software em 2010 e acabou de inaugurar uma nova sede na cidade.

A unidade de tecnologia da informação, especializada na área da saúde, emprega 450 pessoas e atende clientes do grupo no mundo inteiro. Outras 80 vagas estão abertas na cidade. “Em um momento como esse é muito bom trabalhar em uma empresa que está contratando, divulgando vagas”, afirma. “É uma motivação a mais.” / Naiana Oscar

'Cheguei às 3h na fila; está difícil conseguir vaga'

Maíra Soares Ferreira madruga para garantir lugar Foto: Márcio Fernandes/Estadão

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Maíra Soares Ferreira madruga para garantir lugar 

Maíra Soares Ferreira, de 34 anos, assistente administrativa, que foi demitida de um grande escritório de advocacia de Salvador, chegou às 3h da última quarta-feira ao atendimento no SineBahia da Avenida Antonio Carlos Magalhães, região nobre da capital baiana. Desempregada há quase um ano e sabendo da alta procura pelo posto de serviços, Maíra levou de casa um banquinho para enfrentar a longa espera de cerca de três horas até receber uma senha de atendimento. 

Com o primeiro lugar da fila garantido à porta do posto, Maíra viu o dia amanhecer quando, às 6h, um funcionário iniciou o atendimento. Atrás dela já havia 135 pessoas aguardando a chance de ver listas de vagas e tentar deixar de ser mais um na estatística do desemprego ou encaminhar papelada para o seguro-desemprego. “A gente sabe que a situação do desemprego está bem difícil em Salvador”, disse Maíra. “Mas quero tentar me recolocar no mercado de trabalho.” / Pablo Pereira

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'Disseram que hoje não tem nada pra mim'

Estão falando que já sou velho, disse Célio Roque Ribeiro Foto: Márcio Fernandes/Estadão

Estão falando que já sou velho, disse Célio Roque Ribeiro

Perrengue bravo vive também Célio Roque Ribeiro, de 51 anos, desempregado em pleno sofrimento pela falta de oportunidades. Dizendo-se com experiência como operador de caldeira, especialista em forno baiano (secagem de féculas e farinhas), ele é também açougueiro e, nos últimos e duros tempos, vem tentando se salvar até como pedreiro.

O faz-tudo Ribeiro contou ao Estado, na terça-feira, no posto central do SineBahia, na Avenida Antonio Carlos Magalhães, que, em abril, retirou a última parcela do seguro-desemprego recebido após ter sido demitido por uma rede de supermercados, onde trabalhava no setor das carnes.

“Peguei um bico na reforma de uma escola, mas também acabou”, contou ele, com a senha P236 do posto na mão, que atende 400 por dia, em média. Com uma filha de 9 anos, o morador do bairro Mussurunga 2, periferia da capital, lembrou que, depois de trabalhar por 12 anos em São Paulo, retornou à Bahia em 2007 com o sonho de tocar a vida no Nordeste. Na passagem pelo Sudeste, trabalhou no bairro de Pinheiros, na capital, foi à luta em Itu e chegou a batalhar em Palmital, ambas no interior paulista.

Desde que voltou para a terra natal, vinha se mantendo em atividade até que, no ano passado, foi ceifado pela crise. “Mas eu tenho três profissões”, argumentou no Sine, na esperança de que a qualificação lhe garantisse nova chance. “Vamos ver o que eu consigo aqui”, disse, pouco antes de ser atendido no posto do governo da Bahia.

Amuado pela situação, explicou ainda que enfrenta o preconceito da idade. “Aqui estão dizendo que eu já sou velho, que para mim fica difícil uma vaga. Mas eu não desisto”, emendou. Ele ficou poucos minutos no guichê 11, de onde saiu às 13h30. “Disseram que hoje não tem nenhuma vaga”, relatou, ainda com a carteira de trabalho na mão. “Vou continuar batendo biela por aí.” / Pablo Pereira

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