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Economia e outras histórias

Retrospectiva 2014

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Por JOSÉ PAULO KUPFER
Atualização:

Não chegou a configurar exatamente uma surpresa, mas diferentemente dos anos anteriores, quando os analistas foram obrigados a fazer ajustes para baixo em suas previsões iniciais, desta vez a evolução dos principais indicadores exigiu, ao longo dos meses, sucessivas revisões para cima. Terminado o ano, constatou-se que os resultados acabaram superando positivamente as expectativas do mercado. Na última pesquisa do ano anterior, os analistas projetavam para o ano seguinte crescimento econômico de 2%. A expansão de 2,8%, no fechamento do período, confirmou que, na prática, um pessimismo excessivo contaminara as estimativas no começo do ano. A recuperação da balança comercial, com um saldo positivo de US$ 12 bilhões, também um pouco acima das projeções, reforça essa impressão. Esses resultados, assim como o do déficit em transações correntes, 10% menor do que o do ano anterior, e o ingresso de investimentos diretos estrangeiros, 10% acima das previsões no começo do ano, de todo modo, não sustentam a ideia de que era o caso de projetar a evolução dos indicadores econômicos com lentes cor-de-rosa. Medida pelo IPCA, a inflação, que bateu em 6,3%, no limite do teto da meta, só comprova que, se não havia razão para tanto pessimismo, também não havia para otimismo. A relativa melhora dos indicadores se deveu, basicamente, a ajustes tanto nas contas públicas quanto nas contas externas, dois departamentos críticos da economia, que enfrentaram desequilíbrios preocupantes no ano anterior. Contrariando premissas convencionais, o ano eleitoral não operou como senha para descontroles nos gastos públicos, assim como a reversão dos estímulos monetários nos Estados Unidos não promoveu o desarranjo previsto nos mercados financeiros globais. No caso das contas públicas, a sombra de um rebaixamento da nota de risco do País funcionou como freio à tentação de continuar recorrendo a manobras contábeis. Além disso, a obtenção de superávit primário na vizinhança de 2% do PIB - suficiente para evitar elevação da dívida pública - foi facilitada pelo menor reajuste do salário mínimo, redução nas desonerações e novas receitas oriundas de leilões de concessão de infraestrutura.Mudanças no exterior. O lado externo, diferentemente do que se imaginava, acabou sendo beneficiado pela recuperação da economia americana - que ajudou a sustentar uma modesta, mas positiva, retomada geral dos mercados globais. Também ajudou o modo cuidadoso como foi conduzido o processo de desmonte da gigantesca operação de injeção de liquidez levada a efeito pelo Federal Reserve, nos últimos anos. Inevitável, a alta dos juros nos EUA foi de algum modo controlada, dissolvendo o risco de uma fuga desabalada de capitais dos mercados emergentes, o que permitiu, no caso do Brasil, manter o fluxo de investimentos diretos estrangeiros. Diante do quadro externo menos tumultuado, o Banco Central moderou as elevações da taxa Selic e, em consequência, abriu espaço para uma suave aceleração nas desvalorizações do real, com impacto diluído sobre a inflação. Nesse ambiente, as exportações, sobretudo de manufaturados, recobraram parte do ânimo perdido em anos anteriores, com reflexos também na produção industrial. Com altos e baixos, em resumo, a travessia do ano foi feita e o saldo pode ser considerado positivo. Fica uma base um pouco mais equilibrada para as reformas indispensáveis que terão de vir a partir de agora.As "projeções" desta "retrospectiva" do ano que ainda vai começar são intencionalmente otimistas, mas não irrealistas. É um modo de transmitir, com a chegada do novo ano, uma mensagem de renovada esperança em novos tempos de paz e realizações para todos. Feliz 2014!

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