Reunião de líderes do Mercosul começa nesta quinta com desavenças e revolta do Uruguai

No encontro, presidência rotativa do grupo passa da Argentina para o Brasil; em reunião preparatória na quarta-feira, Uruguai anunciou que pretende iniciar negociações isoladas com potenciais parceiros

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Por Célia Froufe e Lorenna Rodrigues
2 min de leitura

BRASÍLIA - Sob forte pressão externa e embates internos, os líderes dos países do Mercosul se reúnem nesta quinta-feira, 8, de forma virtual. Será nesse encontro que a presidência rotativa do grupo passa da Argentina para o Brasil, com membros claramente em dissenso sobre como conduzir acordos comerciais do bloco. A Bolívia participará desta edição como Estado associado. 

Na quarta-feira, 7, numa reunião das áreas econômica e de relações exteriores que é preparatória para a cúpula desta quinta-feira, as divergências não só emergiram como ficaram ainda mais claras, sem que se tivesse chegado a um consenso ao final das discussões.

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Líderes dos países do Mercosul se reúnem nesta quinta-feira, 8, de forma virtual. Foto: Divulgação

O encontro culminou com o anúncio pelo governo do Uruguai de que pretende iniciar negociações isoladas com potenciais parceiros de fora do bloco. Pelas regras do Mercosul, apenas são aprovadas tratativas comerciais bilaterais que não incluam a redução da tarifa externa comum (TEC) cobrada pelo bloco na importação de outros países.

Esse é um dos principais pontos de embate principais dentro do bloco e a posição uruguaia tem o apoio do Brasil. Na semana passada, o ministro da Economia, Paulo Guedes, chegou a dizer que teria “problemas” no Mercosul “muito em breve”.

Outro impasse - que foi uma das marcas da reunião de maio e causou rusgas entre as partes - é sobre reduzir a TEC. Há grandes diferenças de opiniões sobre a magnitude de sua redução. Como antecipou o Estadão/Broadcast, o governo brasileiro defende um corte de 20% na tarifa ainda este ano, no que tem apoio do Uruguai.

O Brasil já deixou claro várias vezes nos últimos tempos que não deseja ficar amarrado a seus três parceiros, com o intuito de abrir a economia doméstica. Este é um ponto chave para Guedes. Há ainda falta de consenso sobre como lidar com o acordo com a União Europeia (UE), o maior pacto comercial não só para o Mercosul como para o bloco do norte. O texto tem que passar pela avaliação dos parlamentos da UE, que resiste ao fechamento do acordo alegando, entre outras, questões ambientais, mas há uma forte pressão do setor produtivo para que os europeus agilizem o processo.

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Na quarta, a Confederação Nacional da Indústria (CNI) divulgou nota em que manifestou preocupação sobre as tensões entre os membros do Mercosul neste momento. “A CNI lembra que a integração no Mercosul precisa de ajustes e aperfeiçoamentos, mas continua sendo a que mais proporciona resultados econômicos e sociais para o Brasil. Apesar do aperfeiçoamento necessário, o bloco registrou resultados expressivos nos últimos anos, entre eles a negociação do Acordo Mercosul-União Europeia e a celebração de acordos internos, como os de facilitação de comércio e compras governamentais, que estão pendentes de internalização pelos países para que possam surtir efeito”, afirmou.

No mês passado, um grupo de empresários europeus de vários setores de atividade divulgou uma carta aberta pedindo a rápida ratificação do acordo para, entre outros pontos, auxiliar no processo de retomada econômica. Para as companhias, deixar de levar o acordo adiante só fará com que o Mercosul busque outros parceiros comerciais com padrões menos exigentes, o que não contribuiria com as preocupações alegadas pelos opositores do tratado. Especificamente sobre o Brasil, o documento diz que se trata de um país “com quem cooperar no longo prazo, e não isolar”. 

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