PUBLICIDADE

Reunião do G-20 começa favorável à aliança entre Brasil e Índia

Celso Amorim afirmou que países são aliados e tentou pôr fim em desavenças iniciadas pelo ministro de Comércio da Índia

Por Agencia Estado
Atualização:

A reunião do G-20 começou na sexta-feira, 08, com claros gestos em favor da aliança Brasil e Índia, líderes deste grupo de países em desenvolvimento, concentrados na obtenção de um resultado ambicioso na negociação agrícola da Rodada Doha da Organização Mundial do Comércio (OMC), e da coesão dentro do próprio agrupamento. Minutos antes da abertura do encontro, em um hotel de Copacabana, no Rio, a recente desavença germinada entre os dois países foi dissolvida pelo ministro de Comércio da Índia, Kamal Nath, que desautorizou declarações de seu subordinado, Jairam Ramesh. Em seu discurso, o chanceler brasileiro, Celso Amorim, fez questão de tocar no ponto que mais opõe Índia e Brasil nas discussões sobre liberalização agrícola e assinalou uma alternativa de acerto. "Claro que há unidade no G-20. Todos nós viemos de várias partes do mundo para esta reunião. Nós demonstramos a nossa unidade e insistimos na manutenção da dimensão do desenvolvimento desta Rodada", afirmou Nath, pouco antes da abertura do encontro. "Creio que houve um equívoco. Brasil e Índia são aliados, há grande sinergia entre os dois países e forte complementaridade entre suas economias. Mas não há competição", acrescentou, ao ser questionado sobre as declarações de Ramesh. Enquanto Nath falava à imprensa, o ministro Amorim teve o cuidado de deslocar-se do ponto oposto da sala de reuniões para cumprimentá-lo. Nath estava estrategicamente colocado bem na frente dos fotógrafos. Com esse gesto, o chanceler brasileiro tentou igualmente mostrar que ambos estão afinados e que o constrangimento das declarações de Ramesh estavam superados. Em entrevista ao Estado, nesta semana, Ramesh havia declarado que é "ingênuo" pensar que Índia e Brasil possam ser aliados, uma vez que competem em diferentes áreas industriais. Essa posição foi repercutida com destaque pelo jornal indiano Indian Express. No seu discurso, Amorim teve o cuidado de mencionar que o G-20 reconhece a "especificidade" das exceções nas ofertas de abertura de mercados agrícolas e a necessidade de manter as salvaguardas agrícolas para países em desenvolvimento. Esse recado apaziguador foi endereçado principalmente para a Índia e os países do G-33, outro grupo de economias em desenvolvimento presente ao encontro, cujo objetivo é manter mecanismos de proteção à agricultura de subsistência. Demonizado, ao abrir o encontro do G-20 e de representantes de cinco agrupamentos de países em desenvolvimento, Amorim destacou que o fracasso da Rodada Doha não é uma opção aceitável e que qualquer paralisação nesse processo "inspira cuidados". Enfatizou ainda que a reunião da sexta-feira e deste sábado, que terão a participação dos principais negociadores dos Estados Unidos, da União Européia e do Japão, demonstra o "engajamento" de todos com a negociação, suspensa deste julho passado. "A diferença é que, desta vez, os países em desenvolvimento, em particular o G-20, estão no centro do processo. Esta reunião oferece-nos ocasião ímpar para colocar a Rodada Doha de volta nos trilhos", declarou. "Partimos de uma situação em que éramos demonizados como o grande obstáculo que impedia um acordo que, obviamente, nos convinha, para outra em que somos vistos por todos como o interlocutor indispensável. E mesmo como o único grupo capaz de oferecer um ponto de equilíbrio entre posições conflitantes", insistiu mais adiante. Amorim declarou ainda uma máxima repetida no documento final do encontro - a de que o relançamento da Rodada Doha não poderá se dar com recuo nos seus objetivos de abrir mercados agrícola e de reduzir as medidas que distorcem o comércio internacional. "Qualquer tentativa de renegociar ou de reescrever os marcos (da Rodada Doha) será inaceitável", diz o texto, divulgado minutos depois da abertura do encontro. O chanceler brasileiro insistiu que a criação do G-20, durante a Conferência Ministerial da OMC em Cancún (2003), impediu a conclusão de um acordo "bisonho" para a Rodada Doha, "incapaz de modificar a face do comércio agrícola mundial".

Comentários

Os comentários são exclusivos para assinantes do Estadão.