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Reunião entre Brasil e Argentina termina sem acordo

Por MAURO ZANATTA E RENATA VERÍSSIMO
Atualização:

O impasse nas negociações entre Brasil e Argentina para destravar o fluxo de comércio bilateral, sobretudo no setor automotivo, tem como principal razão a exigência de reciprocidade dos argentinos nas medidas sob avaliação pelo governo brasileiro. O governo de Cristina Kirchner não aceita medidas para beneficiar apenas as montadoras instaladas no Brasil. Quer a garantia dos mecanismos de financiamento às exportações de automóveis ao Brasil. Na avaliação dos vizinhos, as propostas do governo Dilma Rousseff beneficiam somente a venda de veículos produzidos no lado de cá da fronteira. Em crise cambial, e com dificuldades para exportar seus produtos, os platinos buscam "pegar uma carona" nas medidas de blindagem das transações bilaterais.O governo brasileiro propôs criar um mecanismo de financiamento às exportações brasileiras para o vizinho, mas o governo de Buenos Aires incorporou às negociações metas para a integração produtiva com o objetivo de beneficiar, principalmente, os fabricantes de autopeças argentinos. No Brasil, calcula-se que as montadoras deixaram de ganhar US$ 250 milhões no primeiro trimestre deste ano. Até o fim do ano, o "prejuízo" poderia ultrapassar US$ 1 bilhão, informaram fontes graduadas ao ''estado''.Uma nova tentativa de fechar um acordo foi frustrada nesta terça-feira, 29. Em reunião com os ministros Guido Mantega (Fazenda) e Mauro Borges (Desenvolvimento), os ministros argentinos da Economia, Axel Kicillof, e da Indústria, Débora Giorgi, debateram alternativas e soluções por várias horas em Brasília. Representantes da indústria automobilística dos dois países também participaram do encontro. A reunião não foi conclusiva e um novo encontro com técnicos dos dois países foi agendado para os dias 6 e 7 de maio, em Brasília. O Brasil esperava receber da Argentina uma resposta à proposta apresentada na semana passada de usar o Fundo de Garantia à Exportação (FGE) para viabilizar as linhas de crédito a ser ofertadas por bancos privados no Brasil para financiar o importador argentino nas compras brasileiras. Para colocar em prática as operações, as instituições financeiras querem garantias de que receberão de volta o financiamento. A ideia do governo brasileiro é fazer as operações dentro do Convênio de Pagamentos e Créditos Recíprocos (CCR), um sistema de compensação de pagamentos em vigor por acordo dos dois bancos centrais. Em caso de inadimplência do país vizinho, o FGE seria o garantidor final. Na reunião de hoje, foi criado um grupo de trabalho para chegar a uma solução na próxima semana. Os dois países também darão início a um cronograma de negociação para a renovação do acordo automotivo bilateral. A Argentina quer uma maior importação do Brasil de autopeças locais. O governo e setor automotivo brasileiro insistem em prorrogar os acordo sem aumentar as exigências de importação como contrapartida para que o Brasil possa exportar para a Argentina sem tributação. Um interlocutor do setor privado, que tem participado das negociações, disse ao Broadcast que as negociações para melhorar o comércio e a integração produtiva bilateral não terão efeito nas vendas das empresas se não houver um fortalecimento do mercado doméstico dos dois países. O raciocínio é que não adianta integração se não houver demanda pelos automóveis. "Não adianta integração se o mercado cair", argumentou.

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