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Reunião extraordinária mostra impasse do Mercosul

Por Agencia Estado
Atualização:

A reunião extraordinária do Mercosul em Assunção, na sexta-feira, deixou claro que o bloco vive um impasse em torno do rumo que tomará, num momento em que há maior confluência entre os quatro sócios na área política e também na expectativa de retomada da atividade econômica nos dois principais parceiros, o Brasil e a Argentina. Entretanto, somente há idéias sobre o caminho a seguir. "Se, nos últimos anos, o Mercosul estava num contrafluxo agora, todos os parceiros explicitam suas posições específicas nos níveis políticos mais elevados. Como os interesses são contraditórios, o Mercosul está num jogo de xadrez complicado", disse um experiente diplomata. Nesse jogo, há de levar-se em conta dois dados. Um deles a manifestação dos quatro parceiros em favor da negociação em conjunto, como Mercosul, de acordos comerciais, em especial a Alca. O outro, a intenção de todos os sócios de se beneficiar da anunciada ambição de liderança regional do governo brasileiro, que, em contrapartida, se comprometeu a ser generoso com os sócios menores. "A geografia é mãe de todas as coisas. Mas, no mundo globalizado, no qual o bem mais valorizado é o conhecimento, não podemos ficar isolados", declarou o presidente do Uruguai, Jorge Batlle, o único veterano entre os colegas do Mercosul, que tomaram posse ao longo deste ano. "É hora de o Mercosul ouvir a voz da experiência". A reunião de sexta-feira, logo depois de encerrada a cerimônia de posse do novo presidente do Paraguai, Nicanor Duarte Frutos, deixou intocadas as negociações e propostas de cada sócio para encaminhar o destino do bloco conforme seus interesses. Por enquanto, o Brasil defende uma proposta para "impulsionar e dinamizar" o bloco, como definiu o ministro das Relações Exteriores, Celso Amorim. Apresentado em junho, o "Objetivo 2006", contém as medidas para consolidar o livre comércio e a união aduaneira, bem como melhorar a integração física do bloco. Entre elas, estão iniciativas como a revisão da Tarifa Externa Comum (TEC), que se tenta fazer há dois anos, e a eliminação das regras unilaterais que esvaziam o livre comércio. A idéia do Uruguai é manter o "equilíbrio e a coesão" dos sócios. O paraguaio Duarte Frutos apresentou um documento com oito demandas de tratamento preferencial dentro do bloco, sob a alegação de assimetria e de grau de desenvolvimento mais modesto. A Argentina propôs a criação de um Instituto Monetário para conduzir a política de convergência macroeconômica dos quatro países e dar mais consistência à meta de adoção de uma moeda comum. Segundo Amorim, todos concordaram que será preciso um pouco de "voluntarismo político" para lidar com esse desafio e decidiram que haverá representantes dos Ministérios da Fazenda e das Relações Exteriores nas próximas reuniões entre técnicos dos Bancos Centrais sobre o tema.

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