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Revenda e estoques influíram na alta do álcool, dizem usineiros

Por Agencia Estado
Atualização:

Dirigentes do setor sucro-alcooleiro de Estados do Sudeste e Centro-Oeste atribuíram parte da responsabilidade pela recente alta do álcool à recuperação de margens ocorrida na revenda de combustíveis e a erros na condução, pelo governo federal, da política de regulação dos estoques do produto. Os produtores garantiram que não haverá desabastecimento. O próprio setor, afirmaram, mantém estocados um bilhão de litros do combustível com o objetivo de atender às necessidades do consumidor durante a entressafra, que começará em novembro. Reunidos hoje em São Paulo, os diretores de sindicatos da indústria da cana-de-açúcar do Rio de Janeiro, Minas Gerais, Mato Grosso do Sul e do Mato Grosso disseram que, apesar do aumento dos preços verificado também nas usinas, o preço do álcool hidratado, que move os veículos a álcool, ainda está abaixo da relação histórica com o preço da gasolina, de 75%. Além disso, destacaram que o preço do anidro, usado como aditivo à gasolina, ainda é um fator de barateamento da gasolina, embora tenha subido. Segundo o usineiro José Pessoa Queiroz Bisneto, diretor do sindicato dos produtores de açúcar e álcool do Mato Grosso, os preços do álcool hidratado praticados nos postos de Brasília estão muito além do que seria o normal. "O álcool hidratado está custando, no Plano Piloto e nas cidades satélites, de R$ 1,68 a R$ 1,69 o litro", disse ele. O usineiro acrescentou que, se fossem preservadas as margens de ganho normais, o álcool estaria custando R$ 1,36 o litro no Plano Piloto e de R$ 1,16 a R$ 1,18 o litro nas cidades satélites. "As margens nunca foram estas. Tem muito posto aproveitando-se da crise e levando vantagem", disse ele. Queda Queiroz Bisneto afirmou que a alta verificada desde agosto nos preços do álcool anidro e do hidratado nas usinas tomou como base um momento de queda significativa dos preços. O metro cúbico do álcool anidro custava, em junho, cerca de R$ 500,00 e encerrou o mês de outubro próximo de R$ 680,00, de acordo com dados da Escola Superior de Agricultura Luiz de Queiroz (Esalq). Ele nega que o aumento dos preços do álcool seja decorrência do aumento dos preços internacionais do açúcar e que, por conta do melhor desempenho da commodity, a oferta do combusível tenha sido reduzida. "O que houve é que teremos uma safra mais curta, por conta da seca, o que deverá diminuir a produção do álcool de 14 bilhões projetados para algo em torno de 11,5 bilhões", disse. Para ele, a alta do álcool a partir de agosto pode ser explicada também pela base de comparação. "Ocorre que, em junho, os preços estavam no fundo de uma depressão, depois de a Petrobras, que executa a política de regulação dos estoques, ter lançado no mercado os seus estoques reguladores de álcool", disse Queiroz Bisneto. Até meados de abril, o anidro vinha sendo negociado acima de R$ 600,00 o metro cúbico, segundo ele. Desova inoportuna O usineiro acrescentou que a desova dos estoques da Petrobras foi inoportuna. "Venderam os estoques no pico da safra, quando a oferta era significativa, prejudicando muitos produtores", disse ele. "Provocou-se, então, uma espiral de queda que foi sucedida por uma espiral de alta." Como reflexo da intervenção equivocada do governo federal, Queiroz Bisneto ressaltou que, ao queimar os seus estoques no pico da safra, "o governo perdeu o poder de fogo para baixar os preços agora". Para garantir a oferta do álcool combustível, Queiroz Bisneto acrescentou que os usineiros desistiram de exportar 1 bilhão de litros do combustível. Mas esses estoques somente serão utilizados quando os preços superarem a relação histórica entre o álcool e a gasolina, com o combustível da cana custando 75% do preço do derivado de petróleo. Os usineiros afirmaram ainda que seria um erro o governo reduzir a mistura de álcool anidro para forçar uma queda dos preços da gasolina. Segundo Queiroz Bisneto, com a mistura do anidro à proporção de 25%, o preço final da gasolina é de R$ 1,94 considerando-se todas as etapas da comercialização. Se a proporção cair para 20%, haveria um aumento de 3,09% nesse preço, já que o preço do aditivo é menor que o da gasolina.

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