Revisão dos benefícios atuais pode ajudar na criação do Renda Cidadã

Ainda sem uma fonte de financiamento, impasse na criação do novo programa entre governo e Congresso é tão grande que até o nome pode voltar ao inicial Renda Brasil

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Por Adriana Fernandes, Jussara Soares e Idiana Tomazelli
3 min de leitura

BRASÍLIA - Com o impasse sobre o modelo de financiamento do Renda Cidadã, lideranças do Congresso querem retomar a articulação para “erguer” o novo programa social a partir de uma revisão dos benefícios atuais. A deixa foi dada pelo próprio presidente Jair Bolsonaro, que pediu sugestões de propostas depois que o mercado financeiro se estressou com o modelo apresentado na segunda-feira, que usava recursos de precatórios (uma dívida judicial que a União tem com empresas e cidadãos) e foi visto como um “calote”, e reagiu com nervosismo e desconfiança.

O programa pode inclusive voltar ao nome inicial de Renda Brasil, segundo apurou o Estadão, dada a dificuldade dos integrantes do próprio governo em se acostumar ao novo nome – lançado depois que Bolsonaro, irritado com a proposta de congelamento de aposentadorias para bancar o programa, avisou que estava proibido falar em Renda Brasil até 2022.

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Guedes disse que não vai usar precatórios para financiar novo programa. Foto: Gabriela Biló/Estadão

O relator da PEC emergencial, senador Marcio Bittar (MDB-AC), está ouvindo sugestões para um novo modelo de financiamento, depois que o ministro da Economia, Paulo Guedes, anunciou que não vai usar os recursos dos precatórios para financiar o novo programa. O ministro tirou o apoio inicial após ter posado ao lado de Bittar durante o anúncio no Palácio da Alvorada, o que deixou o relator contrariado e ainda gerou uma saia-justa entre a articulação política e a Economia.

Guedes sugeriu

A interlocutores, Bittar tem dito que recebeu a sugestão do ministro. O relatou passou três dias defendendo a proposta. Na manhã do dia seguinte ao anúncio, Bittar chegou a afirmar ao Estadão “que não se assustava tão fácil” com as críticas. No Ministério da Economia, a versão é que a proposta veio “quadrada” da área política, um sinal de que o novo modelo de “articulação” e diálogo da equipe econômica com o Congresso, via líderes do governo, ainda não está bem azeitado. Técnicos da área econômica, por outro lado, avaliam que Bittar, outrora muito afinado com a equipe de Guedes, teria mudado da “água para o vinho”.

No Planalto, há quem defenda que o novo programa seja criado sem uma definição exata de onde viriam os recursos. Caberia ao relator e às lideranças encontrar a fonte a partir da revisão das despesas para, aos poucos, liberar espaço no teto de gastos (mecanismo que limita o avanço das despesas à inflação) ao novo programa.

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Na “pior das hipóteses”, o Renda pode começar apenas com os R$ 35 bilhões já reservados para o Bolsa Família em 2021, diante das dificuldades em se chegar a um consenso sobre quais programas poderiam entrar no alvo da revisão. O próprio presidente já vetou mudanças no abono salarial (espécie de 14º salário pago a trabalhadores com carteira e com salário até R$ 2.090) e no seguro-defeso (pago a pescadores em período de proibição da pesca), tanto que o tema ficou de fora da reunião no Alvorada sobre o programa.

Segundo apurou o Estadão, o líder do MDB na Câmara, Baleia Rossi (SP), autor de uma das propostas de reforma tributária atualmente em tramitação no Congresso, se reuniu com Bittar na quarta-feira na tentativa de buscar fontes de financiamento dentro do teto de gastos e sem a criação de um novo imposto. A avaliação é de que não é possível “jogar todo trabalho de responsabilidade fiscal para o alto."

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