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Revisão feita por agência surpreendeu o governo

Segundo integrante da equipe econômica, avaliação era de que a Moody's esperaria as sinalizações da política econômica do próximo presidente eleito

Foto do author Adriana Fernandes
Foto do author Murilo Rodrigues Alves
Por Adriana Fernandes e Murilo Rodrigues Alves
Atualização:

O governo não contava com a divulgação da avaliação da agência Moody's antes do término das eleições presidenciais. Segundo um integrante da equipe econômica, que falou sob condição de anonimato, a revisão da perspectiva do rating do Brasil, de estável para negativa, acabou surpreendendo, pois esperava-se que a agência aguardasse as sinalizações de política do próximo presidente eleito. A avaliação é que o sinal negativo da Moody's, às vésperas do primeiro turno das eleições, coloca mais pressão sobre a política econômica da presidente Dilma Rousseff e reforça as críticas dos candidatos de oposição. A agência não quis correr o risco de uma deterioração do quadro da economia depois das eleições, preferindo se antecipar ao colocar a perspectiva do rating brasileiro em "rota" negativa. Teria contribuído para a revisão, segundo outra fonte da área econômica, a demora da presidente Dilma e da sua equipe em dar sinais mais fortes sobre a política econômica em um eventual segundo mandato. Embora tenha viés negativo, em um momento delicado para a economia e de pressão eleitoral, a Moody's não rebaixou a nota do Brasil, como fez a Standard & Poor's (S&P) em março. Das três grandes agências de rating, a Moody's era a única que ainda não tinha se posicionado sobre a nota do Brasil. Em julho, a Fitch decidiu manter a nota do Brasil com perspectiva estável, justificando que o País tem forte capacidade de absorção de choques. Recentemente, porém, a "trégua" temporária da Fitch tem sido substituída por uma mudança de tom e um discurso mais forte de críticas à política econômica (leia mais na página B4). Integrantes da área econômica avaliam agora que o governo pode ter minimizado a importância dos alertas sucessivos das agências. Como a reação do mercado na época do rebaixamento da S&P não foi de estresse, o governo acabou ficando aliviado, sobretudo porque o movimento ocorreu bem antes do início da campanha. Agora, o cenário é diferente porque a eleição está a todo o vapor, com maior risco de vitória da oposição. Uma corrente avalia que o governo precisa ser mais firme nas sinalizações da política fiscal.Bancos. A Moody's também revisou para baixo a perspectiva de nota de crédito de bancos brasileiros, como consequência da reclassificação do viés da nota do País. Entre os bancos citados estão BNDES, Caixa, Banco do Brasil, Bradesco, Itaú, Santander, HSBC e Citibank. E pode fazer o mesmo com empresas como a Petrobrás. Para o economista Claudio Frischtak, da consultoria Inter.B, os investimentos em infraestrutura serão os mais afetados, no caso de um rebaixamento. Nesse cenário, haveria uma elevação dos custos dos empréstimos para investimentos. Esse custo é resultado de uma mistura entre o custo da dívida pública brasileira e dos financiamentos privados. "Projetos que faziam sentido podem deixar de fazê-lo." Isso pode ser um balde de água fria nos planos dos principais candidatos à presidência da República. Todos apostam em novas concessões e Parcerias Público-Privadas (PPPs) para elevar as taxas de investimento no País. / Colaboraram Lu Aiko e Francine de Lorenzo

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