08 de janeiro de 2016 | 05h00
A Arábia Saudita cogita abrir o capital da Saudi Aramco, estatal que é a maior produtora de petróleo do mundo e quase com certeza a empresa de valor mais elevado do planeta. O príncipe Mohammed bin Salman, segundo homem na linha de sucessão do reino saudita e homem forte por trás do trono de seu pai, o rei Salman, revelou a The Economist que em poucos meses as autoridades do país devem chegar a uma decisão sobre o assunto. “Pessoalmente, estou entusiasmado com esse passo”, disse ele. “Acho que atende aos interesses do mercado saudita e também aos interesses da Aramco.”
A ideia de lançar ações da empresa em bolsa é aventada num momento em que a Arábia Saudita sofre os efeitos do colapso nos preços do petróleo, atualmente abaixo de US$ 35 o barril. Seu anúncio também ocorre em concomitância com o agravamento das tensões nas relações com o arquirrival Irã, em decorrência da execução do clérigo saudita Nimr Baqr al-Nimr, no início deste mês. Mas é apenas uma das medidas que as autoridades de Riad estudam incluir num plano destinado a reequilibrar o orçamento e abrir as portas da fechada economia do país.
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As declarações foram feitas na primeira entrevista oficial do príncipe Mohammed, concedida na segunda-feira, durante a qual ele discorreu sobre vários assuntos, da geopolítica da região aos esforços que o governo saudita vem envidando com o intuito de promover reformas econômicas radicais.
O príncipe coordenou recentemente duas reuniões com autoridades de alto escalão para discutir a possibilidade de abrir o capital da Saudi Aramco. Fontes do governo saudita dizem que, num primeiro momento, as alternativas estudadas vão do lançamento de ações de algumas petroquímicas e outras subsidiárias do downstream petrolífero (atividades de transporte, distribuição e comercialização dos derivados de petróleo) à venda de ações da própria holding, que inclui a produção de petróleo propriamente dita.Segundo as autoridades sauditas, a Saudi Aramco vale “trilhões de dólares”, mas a estatal é uma das empresas mais fechadas do mundo; não revela dados sobre suas receitas e oferece acesso apenas limitado a informações sobre suas reservas de hidrocarbonetos.
Na opinião do príncipe Mohammed, a abertura de capital contribuiria para que a companhia se tornasse mais transparente. Diplomatas dizem que já há investidores sendo sondados. Fala-se em lançar, inicialmente, parte da companhia na Bolsa de Riad – representando, talvez, 5% da empresa; porcentual que poderia aumentar com o tempo, embora o reino não pense em abrir mão do controle da empresa.
Falando sobre o Irã, o príncipe Mohammed defendeu a decisão tomada pela Arábia Saudita no último domingo, quando o país suspendeu as relações diplomáticas com a potência rival – depois que sua embaixada em Teerã foi incendiada por manifestantes que protestavam contra a execução de Nimr. O príncipe negou a possibilidade de um conflito armado entre os dois países. “Uma guerra entre Arábia Saudita e Irã seria o início de uma catástrofe de enormes proporções na região”, disse ele. “É claro que não permitiremos que isso aconteça.” Ontem, porém, o Irã acusou os sauditas de lançarem ataques aéreos contra sua embaixada em Sanaa, capital do Iêmen.
Depois que, há pouco mais de um ano, o príncipe Mohammed foi posto no comando do Ministério da Defesa e do Conselho para Assuntos de Economia e Desenvolvimento, as investidas geopolíticas do país são acompanhadas, internamente, da formulação de planos voltados para a implementação de grandes transformações econômicas. Esses planos incluem a eliminação gradual dos subsídios sobre energia elétrica, água e habitação; o estímulo à participação do setor privado nas áreas de educação e saúde; a introdução de um imposto sobre valor agregado para bens de consumo supérfluos; e a possibilidade de privatização completa ou parcial de mais de duas dezenas de órgãos estatais, incluindo a companhia aérea e as empresas de telecomunicações do país.
Indagado se a Arábia Saudita estava passando por uma “revolução thatcherista”, o príncipe Mohammed respondeu: “É bem provável que sim”.
© 2015 THE ECONOMIST NEWSPAPER LIMITED. DIREITOS RESERVADOS. TRADUZIDO POR ALEXANDRE HUBNER, PUBLICADO SOB LICENÇA. O TEXTO ORIGINAL EM INGLÊS ESTÁ EM WWW.ECONOMIST.COM.
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