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Ricupero cobra ação mais firme para controlar dólar

Por Agencia Estado
Atualização:

O ex-ministro da Fazenda Rubens Ricupero, hoje secretário geral da Conferência das Nações Unidas para o Comércio e o Desenvolvimento (Unctad), cobrou, em entrevista à Agência Estado, uma ação mais firme do governo na área cambial com a utilização das reservas do País para conter a atual volatilidade do dólar. Ele argumentou que as reservas foram reforçadas pelo recente acordo com o Fundo Monetário Internacional (FMI). "Se o problema é realmente a demanda de dólares, então por que não usar as reservas?", indagou o embaixador, no final da tarde de ontem, depois de ter sido informado que o dólar havia atingido o recorde de R$ 4,00. "Será que o acordo com o FMI não serviu de nada?" Ricupero, que evitou fazer qualquer comentário sobre rumores de estar sendo sondado para fazer parte de um eventual governo do PT, reconheceu estar extremamente preocupado pela situação do Brasil e criticou abertamente o longo período de transição que existe hoje entre as eleições e a posse do novo presidente. "A transição no Brasil é muito longa", disse, ao se referir aos três meses, em caso de uma decisão no primeiro turno, ou dois meses, no caso de existir um segundo turno, como agora. "Em países frágeis e instáveis econômica e financeiramente, essa transição demorada é perigosíssima." Para o embaixador, países sujeitos a situações de inflação alta ou de turbulências cambias exigem uma atualização urgente de sua legislação política. "Não tem cabimento esperar meses e meses para concretizar a transição", disse. Suponhamos, acrescentou o secretário geral desse organismo das Nações Unidas, "que um dos candidatos, independentemente de quem venha a vencer as eleições, tenha em mãos instrumentos suficientes para controlar essa crise cambial, como se valer deles se tem de esperar dois ou três meses para usá-los?" Ricupero acredita que a fórmula ficou anacrônica, já que, enquanto o governo eleito não assumir o poder, não é possível adotar medidas preventivas e decisivas para enfrentar problemas como as que vem atormentando o Brasil. O embaixador citou como exemplos a Inglaterra, onde a posse do primeiro-ministro é ao dia seguinte à confirmação do resultado das eleições. "Os EUA também têm um período relativamente longo, mas é bom lembrar que se trata de um país com economia estável", disse. O secretário geral da Unctad sugeriu que, em uma futura reforma política no País, a redução do período de transição não pode ser esquecida. "Estou com muito medo deste governo não chegar até o fim (dezembro)", disse. Indagado se a indicação de nomes para a eventuais cargos estratégicos, como ministro de Economia e presidente do Banco Central, atenuariam essa turbulência, o embaixador mostrou-se pessimista mais uma vez. "Podem indicar até um Prêmio Nobel de Economia que não vão acabar com essa tensão e nervosismo que tomou conta do mercado, já que o caráter dessa crise é o agravamento da situação interna", afirmou. O embaixador lembrou ainda que a indicação de nomes para cargos pode ter efeito negativo ou se transformar em momento cruel para o indicado. "Ao nomear alguém para um cargo para o qual precisa esperar dois ou três meses, já se está expondo esse alguém a toda sorte. Por isso, acho a situação delicadíssima", disse. Segundo o embaixador, a valorização do dólar agrava mais ainda a situação do País, já que incide diretamente sobre a dívida. "O efeito disso certamente recai sobre a parcela em dólares. Essa foi sempre uma de minhas preocupações, não as eleições."

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