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Rio puxa taxa de desemprego para baixo

Com maior participação de aposentados na população, Rio tem taxa de desemprego de 3,6%, ante 4,9% da média nacional

Por Daniela Amorim (Broadcast), Idiana Tomazelli e Vinicius Neder
Atualização:
'Tenho duas filhas, e elas me ajudam', diz Ernestina, aposentada de 68 anos, no Rio Foto: FABIO MOTTA/ESTADÃO

RIO - O envelhecimento da população pode estar por trás do baixo desemprego no Rio de Janeiro. A taxa de desocupação na região metropolitana fluminense atingiu a mínima histórica de 3% em agosto e avançou a 3,4% em setembro, mas segue como o melhor desempenho entre as seis regiões que integram a Pesquisa Mensal de Emprego (PME) do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE).

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Ao mesmo tempo, o Rio é a região com a maior proporção de pessoas mais velhas na população em idade ativa (PIA, formada por quem tem mais de 10 anos). O IBGE divide a PIA por faixas etárias e, no Rio, o topo dessa divisão (acima de 50 anos) é maior do que em outras regiões metropolitanas, com quase 40% da população local em idade de trabalhar. Em Salvador, por exemplo, essa proporção não chega a 30%.

“Nessa região, a população mais idosa cresce mais rapidamente, de modo que essa dinâmica demográfica pode estar na raiz dessa queda na taxa de participação”, aponta Cláudio Dedecca, professor do Instituto de Economia da Unicamp.

Fora do mercado. Mesmo com a estagnação da economia, a taxa de desemprego tem se mantido baixa no País, mas apoiada na saída de pessoas do mercado de trabalho, não pela geração de vagas. No Rio, esse fenômeno é mais intenso. Entre as 177 mil pessoas que migraram para a inatividade entre setembro de 2013 e setembro deste ano, 158 mil, ou 89,3%, estavam na faixa etária a partir de 50 anos.

Em setembro, a taxa de desemprego média para as seis regiões metropolitanas ficou em 4,9%, a menor da história para o mês na série do IBGE. O Rio manteve a tendência de renovar as mínimas históricas em relação ao ano anterior, na contramão de outras regiões. Em agosto, a taxa média de desocupação nas seis regiões havia ficado em 5%, dois pontos a mais do que no Rio.

Segundo o economista Fernando de Holanda Barbosa Filho, do Instituto Brasileiro de Economia da Fundação Getulio Vargas (Ibre/FGV), os números do Rio, com peso próximo de 25% do universo total da pesquisa do IBGE, melhoram muito o resultado nacional. Ele calcula que, em agosto, a taxa de desemprego teria ficado em 5,7% sem contar o Rio.

Para ajudar a explicar o desemprego baixo mesmo com a economia parada, analistas dizem que, após meses de aumentos reais nos salários, idosos e jovens têm deixado de procurar emprego porque não necessitam mais complementar a renda familiar.

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É o caso de idosos que podem contar com a ajuda dos filhos, como Ernestina Rodrigues Gomes, de 68 anos. Ela trabalhou como massagista desde os 14 anos até seis meses atrás, quando se aposentou. Doenças que vêm com a idade começaram a prejudicá-la na profissão em que atuou por mais de meio século, o que pesou na decisão.

“Tenho duas filhas, e elas me ajudam”, conta a aposentada, que mora de aluguel no Rio Comprido, na zona norte do Rio, e aproveitava o dia ensolarado num praça de Copacabana, na sexta-feira.

Já o português Alberto Pereira, de 79 anos, que trabalhou a vida toda como dono de açougue no Rio, aposentou-se em 1986, mas continuou trabalhando até o ano passado, quando vendeu o estabelecimento a dois de seus funcionários, segundo ele, por um valor simbólico. Agora, ele aproveita algumas manhãs para se exercitar em uma praça em Copacabana.

Graças às economias e a alguns bens adquiridos ao longo dos anos, ele diz levar uma vida tranquila. “Só a aposentadoria não chega”, confessa.

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Renda. Barbosa Filho, do Ibre/FGV, acredita que a desaceleração da economia, que gera menos vagas de trabalho do que antes e resulta em aumentos menores da renda, pode contribuir na decisão dos idosos em deixar o mercado de trabalho.

“É possível que comece uma crise e esses caras abandonem seus postos de trabalho, saiam do mercado, e isso seja um efeito permanente”, diz o economista.

João Sabóia, professor do Instituto de Economia da UFRJ, chama a atenção para outras particularidades da economia fluminense, entre elas a maior participação de funcionários públicos - herança da época em que o Rio era capital - e de vagas nos setores de comércio e serviços. Essas características protegem um pouco o Rio.

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“Em São Paulo, a participação da indústria é muito maior e é a indústria que tem mais desempregado”, diz.

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