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Risco Brasil, inflação e câmbio explicam manutenção dos juros

Os três fatores são citados na ata da última reunião do Copom, divulgada hoje, como os motivos para não baixar a taxa básica de juros da economia brasileira, a Selic.

Por Agencia Estado
Atualização:

A piora do risco Brasil, a recente depreciação cambial e a proximidade das projeções de inflação do teto da banda definida para este ano foram os três pontos listados pelos diretores do Banco Central para justificar a manutenção da taxa Selic em 18,5% na última reunião do Comitê de Política Monetária (Copom), no dia 22. Apesar de a projeção da inflação para 2003 estar abaixo da meta estabelecida - que é de 3,25% -, a maioria dos membros do Copom considerou que o balanço dos "riscos para 2002" recomenda a "confirmação da trajetória de queda da inflação para a flexibilização da política monetária", porque essa flexibilização ainda teria impacto sobre o resultado de 2002. Os diretores argumentam, na ata da reunião, divulgada hoje, que a trajetória projetada de queda da inflação para 2002 e 2003 - estimada pelo próprio BC - e reforçada pelas expectativas do mercado, "recomendaria" uma retomada do processo de flexibilização da política monetária. "Contudo, não houve consenso sobre o momento adequado para a retomada do processo de redução da taxa básica de juros", alegam os diretores, apontando os três riscos que foram considerados. Placar dividido A manutenção da taxa de juros em 18,5% ao ano na última reunião teve um placar dividido. Cinco diretores votaram a favor da manutenção contra três, que foram favoráveis à redução do juro este mês. Preços livres devem seguir em queda Os diretores do BC argumentam na ata da última reunião do Copom que a tendência de queda da inflação dos preços livres deve persistir ao longo de 2002 e 2003. Os membros do Copom chamam atenção para o fato de a inflação desses preços livres terem caído desde fevereiro, o que justificaria a projeção de manutenção da tendência de queda ao longo deste ano e de 2003. "Depois de atingir 0,64% em fevereiro, a variação mensal caiu para 0,45% e 0,24% nos dois meses subsequentes", explicam. Sobe a projeção sobre preços administrados Em relação ao conjunto dos preços administrados por contrato e monitorados, entretanto, a ata do Copom revela que os diretores do BC refizeram a projeção de inflação destes preços para 2002. A inflação deste conjunto de preços que era projetada em 7,2% em abril, passou agora para 7,6%. "A elevação da projeção decorre basicamente da depreciação cambial ocorrida entre as reuniões do Copom de abril e maio", justificam. Os diretores do BC lembram ainda que essa nova projeção incorpora os aumentos de ônibus urbanos nas cidades do Rio de Janeiro (9,09%) e Salvador (10%). Recuperação da economia mostra sinais de arrefecimento Os diretores do Banco Central avaliam que a recuperação da economia brasileira nos últimos meses acabou mostrando, agora, "sinais de arrefecimento". De acordo com a ata da última reunião do Copom, esses "sinais" seriam a redução de 0,80% da produção industrial em março, a queda de 1,96% das vendas reais do comércio varejista da região metropolitana de São Paulo em abril, e a queda do índice de intenções do consumidor em maio, depois de um crescimento por seis meses consecutivos deste índice. "A perda do fôlego é também atribuída ao esgotamento do processo de recuperação de expectativas de consumidores, ao fim do ciclo de recomposição de estoques, ao crescimento ainda modesto da massa de rendimentos, à ausência de retomada do crédito e, mais recentemente, à maior inclinação da curva de juros", completam os diretores, na ata. Entretanto, apesar de todos esses sinais de "perda de fôlego" da recuperação da economia brasileira, os diretores do BC ressaltam na ata que "não há sinais de que a economia caminhe para uma recessão." Na avaliação do Copom, é esperado um aumento no consumo de bens duráveis, em função do fim do racionamento de energia e da proximidade da Copa do Mundo, que se inicia nesta sexta-feira. "Espera-se também que as eleições estimulem alguns setores específicos, como eletro-eletrônicos, papel e papelão e têxteis". Além disso, os membros do Copom acreditam que alguns indicadores já mostram que a massa salarial real tem crescido desde janeiro deste ano, e o nível de emprego industrial desde dezembro 2001. O desempenho do setor externo também continua "positivo", de acordo com a avaliação do Copom. Isso porque o déficit em transações correntes acumulado em 12 meses até abril foi totalmente financiado pelos ingresso líquido de investimento estrangeiro direto. Os diretores do BC chamam atenção, entretanto, aos problemas relacionados ao risco Brasil e ao câmbio. "O risco país e o câmbio não têm refletido esses bons fundamentos do setor externo. Desde a reunião de abril, o risco Brasil medido pelo Embi+ subiu de 733 para 940 pontos-base, e o real depreciou-se 7,6%", argumentam.

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