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Risco-país e dólar voltam a disparar no Uruguai

Por Agencia Estado
Atualização:

A deterioração da confiança externa em relação à América Latina enfraqueceu de vez a tradição uruguaia de bom pagador da dívida externa. Dúvidas sobre a capacidade de o Uruguai poder honrar seus compromissos e o temor de o governo se ver obrigado a optar por uma reestruturação da dívida externa provocaram uma nova disparada do risco-país e uma maior desvalorização do peso uruguaio na sexta-feira. A taxa de risco fechou, na semana passada, em 2.059 pontos base, 324 pontos acima do registrado no início da semana. A moeda norte-americana, por sua vez, subiu 2,4% apenas na sexta-feira, quando fechou a 29,50 pesos para compra e 32 pesos para venda. Desde o aprofundamento da crise econômica e financeira na Argentina, principal parceiro, senão o maior, comercial do país, a taxa de risco Uruguai subiu em proporções assustadoras. Ao fim de 2001, esse indicador estava apenas em 220 pontos base. Isto é, governo ou empresas uruguaias que quisessem captar recursos no exterior naquele período pagavam somente 2,2% a mais sobre os títulos do Tesouro norte-americano, que têm os custos mais baixos. Em meados de fevereiro deste ano, no entanto, esse termômetro de confiança havia subido para 500 pontos base e, em meados de maio, já superava os 1.000 pontos base (mais de 10%). A preocupação, desde então, não se restringiu apenas aos detentores dos bônus uruguaios . Os organismos multilaterais de financiamento começaram a desconfiar da grave situação do país, agravada ainda mais pelos problemas argentinos. Por isso, o mercado acredita agora que o próprio governo, dada a frágil situação financeira e econômica, estaria estudando fórmulas para reduzir o peso da dívida na economia do país, que não cresce há mais de quatro anos. O governo do presidente Jorge Batlle, no entanto, nega que o Uruguai corra risco de default ou seja obrigado a pedir maiores prazos para os vencimentos de sua dívida externa, interna e compromissos com os fornecedores do Estado. Ao final da noite desta sexta-feira, o ministro de Economia, Alejandro Atchugarry, assegurou que, no decorrer do último trimestre do ano, serão regularizados os pagamento aos fornecedores do Estado. O Banco Central do Uruguai (BCU), por sua vez, emitiu comunicado afirmando que, na terça-feira, será normalizada a liquidação de US$ 65 milhões de títulos do Tesouro uruguaio que vencem este mês. Tanto o ministro como os responsáveis pelo Banco Central não querem ouvir falar de uma eventual reestruturação da dívida externa, informa em sua edição deste sábado o jornal El Observador. Ainda nesta sexta-feira, o presidente do Banco Interamericano de Desenvolvimento (BID), Enrique Iglesias, disse em Montevidéu estar satisfeito com a "forma ordenada" pela qual o Uruguai vem administrando sua crise e, embora tenha se mostrado otimista, não deixou de alertar que a "emergência ainda não passou". Quando um jornalista perguntou se, na visão dele, o Uruguai deveria fazer uma reestruturação de sua dívida já de imediato, Iglesias respondeu que não. "Acho que estão fazendo o possível para que isso não ocorra", afirmou o presidente do BID. Enquanto isso, os números da economia real não dão sequer sinais de recuperação. A produção industrial, por exemplo, caiu 7,5% no segundo trimestre do ano, em comparação com o mesmo período de 2001. Com isso, de acordo com o Instituto Nacional de Estatísticas (INE), a atividade industrial já acumula uma retração de 11% no primeiro semestre do ano. Em decorrência desses números, o próprio governo já reconhece que o Produto Interno Bruto (PIB) este ano poderá encolher 11%, ante uma expansão de 1,75% prevista na carta de intenções assinada com o Fundo Monetário Internacional (FMI) no início do primeiro semestre.

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