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''Risco sistêmico é o pesadelo de qualquer BC''

Para ex-diretor de Política Monetária do BC, medidas ampliam rede de segurança, mas podem criar esqueletos

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Por Márcia De Chiara
Atualização:

Alkimar Moura, professor de Economia da Fundação Getúlio Vargas de São Paulo (FGV) e ex-diretor de Política Monetária e Normas do Banco Central (BC), avalia positivamente a decisão do governo de dar mais estabilidade ao mercado financeiro, abrindo a possibilidade de o Banco do Brasil e a Caixa comprarem o controle de instituições financeiras estatais ou privadas. "Risco sistêmico é o pesadelo de qualquer BC", diz. Mas ele alerta que a medida pode levar, no futuro, à criação de novos esqueletos sob a forma créditos de baixa qualidade nesses bancos. A seguir, trechos da entrevista. Como o sr. avalia as medidas tomadas pelo governo que permitem ao Banco do Brasil e a Caixa Econômica Federal comprarem o controle acionário de bancos estatais ou privados e ter participações em empresas de construção civil? Estas medidas ampliam a "rede de segurança" para proteger o sistema bancário brasileiro contra o risco sistêmico, que é o pesadelo de qualquer Banco Central. A decisão segue a tendência observada em alguns países europeus e nos Estados Unidos de permitir que os Tesouros adquiram participações acionárias nos bancos. Esta é, certamente, a última garantia que os Estados nacionais podem oferecer para proteger a estabilidade de seus sistemas bancários. No caso brasileiro, a Caixa Econômica Federal e o Banco do Brasil (BB) estão sendo usados como veículos auxiliares do Tesouro para desempenhar uma função, que não é a de emprestador de última instância - função típica de Banco Central -, mas de acionista de última instância que, na crise atual, passa a ser de responsabilidade pública. É bom lembrar, no entanto, que o BB é uma empresa com ações na Bolsa e com acionistas minoritários. De outro lado, ampliar a rede de segurança para empresas de construção civil é uma decisão política, que nada tem a ver com garantir a estabilidade do sistema bancário. O risco desta ampliação é aumentar a fila de novos setores à procura de proteção governamental. Na sua opinião, essas medidas são necessárias diante do cenário de iliquidez do mercado ou criam mais expectativas negativas nos agentes econômicos? Em situação de crise financeira, todos os instrumentos legais e regulamentares que estão à disposição do Executivo podem e devem ser acionados, na prevenção de uma crise econômica muito mais ruinosa. Isto também contribui para acalmar os investidores mais nervosos, evitando movimentos coletivos de saques e resgates que só amplificam a instabilidade nos mercados. Quais são os efeitos da decisão? No melhor cenário, contribui para dar mais estabilidade ao mercado. A contrapartida desta estabilidade é o aumento da participação do setor público no mercado bancário. Inverte-se, portanto, a tendência observada recentemente no Brasil de redução do tamanho do setor público na atividade bancária. Só espero que não venhamos a criar novos esqueletos mais à frente, sob a forma de créditos de baixa qualidade que coloquem em risco a solvência dos novos bancos estatais e levem à criação de mais encargos fiscais para os futuros contribuintes. De onde o sr. acha que virão os recursos para essas compras? Os recursos deverão vir do patrimônio das próprias instituições financeiras compradoras. No caso da Caixa, como empresa pública, o Tesouro provavelmente terá que aportar recursos, dependendo da situação patrimonial da instituição. Como o sr. avalia a estatização de bancos implícita na medida? É um mal menor, perto do risco maior de instabilidade.

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