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Jornalista e comentarista de economia

Opinião|Riscos e incertezas nos próximos meses

As projeções para o PIB avançam, mas a economia do País ainda mergulha em incertezas que podem comprometer o seu desempenho

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Atualização:

Até esta altura do ano, boa parte das novidades na economia foi positiva. Compare:

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O Produto Interno Bruto (PIB) de 2021 avançará em torno dos 5,5%, bem mais do que os 3 e pouco por cento com que contavam os analistas em janeiro (veja o gráfico). Depois de muitos anos, o rombo das contas externas (déficit em Conta Corrente) deverá ser revertido graças ao excelente desempenho da Balança Comercial (exportações menos importações), e essa é a principal razão pela qual as cotações do dólar no câmbio interno deslizaram dos R$ 5,87 atingidos em março para os R$ 5,25 em que estão hoje.

A vacinação mais rápida parece estar contendo a pandemia, embora nesse campo ainda prevaleçam sérias dúvidas. O “fique em casa” vai sendo deixado para trás e a atividade econômica vem sendo retomada, especialmente na área de serviços.

Também, pode-se contar com certa melhora (embora temporária) das contas públicas, em consequência do bom avanço do PIB e da arremetida dos preços sobre os quais incide grande parte da tributação.

Mas nem tudo é positivo. A inflação surpreendeu até mesmo o Banco Central, que chegou atrasado para combatê-la. Ela não se contém apenas às consequências da alta das commodities, a mesma que ajudou a expandir as exportações brasileiras. Atingiu os produtos industriais, especialmente nos setores mais afetados pela desorganização das cadeias internacionais de produção e distribuição. E, agora, ameaça o setor de serviços. Embora acabe por ultrapassar o teto da meta (5,25%, em 2021), ficará em torno dos 6,5%, magnitude que dificilmente será largamente ultrapassada. 

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Para enfrentar essa estocada dos preços, o Banco Central teve de puxar pelos juros básicos (Selic), hoje nos 4,25% ao ano e que devem fechar 2021 em torno dos 6,5%.

Esses são os parâmetros macroeconômicos que deverão manter-se neste resto de ano – a menos que sejam atacados por ameaças que não podem ser descartadas. Convém identificá-las.

A primeira delas é o de nova onda de covid-19, especialmente provocada pela variante Delta do coronavírus. Ainda não está claro se as vacinas darão conta de manter imunizada a população. Na Europa e nos Estados Unidos, essas incertezas estão atemorizando as autoridades sanitárias e até mesmo o mercado financeiro, como se viu no início desta semana. Se essa nova onda prevalecer, será inevitável o retorno das medidas de proteção mais restritivas, como o isolamento social e novas limitações ao funcionamento de locais públicos.

Depois de muitos anos, o rombo das contas externas (déficit em Conta Corrente) deverá ser revertido graças ao excelente desempenho da Balança Comercial em 2021. Foto: Márcio Fernandes/Estadão. Foto:

A crise hídrica já começou a cobrar no Brasil seu preço em perdas de produção agrícola e alta das tarifas de energia elétrica. Por enquanto, não se fala em racionamento de energia elétrica. Mas essa providência pode vir a ser necessária, com impacto inevitável sobre a atividade econômica.

A outra ameaça é o avanço dos juros no mercado internacional. A inflação está crescendo (nos Estados Unidos, em junho, chegou a 5,4% em termos anuais). Por enquanto, os grandes bancos centrais seguem comprando títulos e, assim, despejando dinheiro nos mercados, mas dia virá em que esse movimento terá de ser revertido, momento em que os juros, hoje ao redor de zero por cento, começarão a subir. Esse processo poderá ter início ainda no primeiro trimestre de 2022. Antes disso, o mercado financeiro poderá passar por forte movimento de corrida aos portos seguros tradicionais (como dólar e ouro), sumiço do crédito e mais dificuldades dos países emergentes para rolar seus passivos em moeda estrangeira.

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E há os riscos que envolvem a questão eleitoral. É possível que, a partir do quarto trimestre deste ano, outros tipos de tensão coloquem em risco o desempenho da economia. São questões sobre se a disputa será entre apenas dois candidatos polarizados ou se caberá uma terceira via; sobre o que seria a orientação da política econômica sob um novo governo, especialmente no que diz respeito à política fiscal, às reformas e aos projetos de privatização; sobre que alianças seriam formadas e o que, a partir daí, seria a sustentação política dos dirigentes.

Infelizmente, sobre o desfecho dessas incertezas pouco se pode avançar. É esperar para ver.*CELSO MING É COMENTARISTA DE ECONOMIA