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Ritmo do PAC é o mais lento desde 2011

De janeiro a agosto, desembolsos para as obras atingiram R$ 27 bilhões, enquanto no mesmo período do ano passado eram de R$ 46 bilhões

Foto do author André Borges
Por André Borges
Atualização:

BRASÍLIA - A paralisação generalizada de obras federais está refletida nos desembolsos feitos ao longo deste ano pelo Programa de Aceleração do Crescimento (PAC). A pedido do Estado, a organização Contas Abertas reuniu os dados sobre a execução orçamentária da principal vitrine de investimentos do governo, desde o seu lançamento, em 2007, até os dias de hoje. O cenário mostra a crescente desidratação dos investimentos.

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Entre janeiro e agosto deste ano, a execução do PAC atingiu apenas R$ 27 bilhões, resultado que não chega a 60% do que foi executado no mesmo período do ano passado, quando os pagamentos alcançaram R$ 46 bilhões, um desempenho já ruim. 

Se observado o histórico dos desembolsos realizados desde o início do programa, esses oito meses de 2015 entregaram a pior execução dos últimos quatro anos, só superando os dispêndios de 2011.

Obra de ponte sobre o Rio Guaíba, em Porto Alegre Foto: OMAR FREITAS / AGENCIA RBS-9/9/2015

Para evitar distorções, os dados consideram apenas os investimentos diretos feitos pela União, deixando de fora os financiamentos concedidos pela Caixa Econômica Federal ao Minha Casa Minha Vida e os aportes feitos por estatais, como a Petrobrás. Todos os valores também foram corrigidos pela inflação.

“É o resultado da crise econômica e das limitações do governo. Já que ele não tem como atuar no que diz respeito às despesas obrigatórias, que são aquelas previstas em lei, como salário e previdência, só resta cortar as despesas discricionárias, como viagens e serviços, além dos investimentos públicos”, diz o secretário-geral da Contas Abertas, Gil Castello Branco.

O perfil dos pagamentos realizados também revela as dificuldades do governo em quitar suas contas assim que os serviços são entregues. Dos R$ 27 bilhões executados até agosto, mais de R$ 19 bilhões referem-se a “restos a pagar”, como são chamadas as dívidas de anos anteriores que não foram quitadas. Para as obras realizadas neste ano, portanto, o repasse chegou a apenas R$ 8 bilhões.

O resultado dessa situação é o crescimento de dívidas para quitar no ano que vem. Atualmente, somente o estoque de restos a pagar do PAC já supera R$ 42 bilhões, exatamente o total do orçamento que estava previsto para o programa em 2016. Já se sabe, porém, que o PAC sofreu um contingenciamento de R$ 3,8 bilhões.

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“É a crônica da morte anunciada. O setor de infraestrutura é exatamente aquele que deveria ter condições hoje para investir e ajudar o País a sair da crise, mas infelizmente tem sido encurralado pela má gestão pública e pela total insegurança jurídica”, diz Adriano Pires, presidente do Centro Brasileiro de Infraestrutura (Cbie). “Estamos pagando a conta da crise produzida pelo governo.”

Mobilidade. Na última semana, o Tribunal de Contas da União (TCU) fez um levantamento, a pedido do Congresso, sofre a situação de todas as obras do PAC ligadas à mobilidade urbana. A partir de dados fornecidos pelo Ministério das Cidades e atualizados até o dia 9 de agosto, chegou-se a uma lista total de 2.523 empreendimentos previstos, sendo 378 incluídos no “PAC Mobilidade”, outros 1.043 no “PAC Pavimentação” e mais 1.102 obras “Não PAC”, decorrentes de emendas parlamentares.

Ao examinar as informações, o TCU conclui que o porcentual de empreendimentos ainda não iniciados, no caso do PAC Mobilidade, alcança cerca 70%. No PAC Pavimentação a proporção de obras não iniciadas é de cerca de 68% sobre o total e, nas obras de mobilidade atreladas às emendas, somam 17% as obras não iniciadas. 

“Por tudo isso, o PAC deixou de ser aquela vitrine para o governo”, comenta Gil Castello Branco, da Contas Abertas.

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