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Roche paga US$ 46,8 bilhões para ter 100% da Genentech

Empresa suíça já detinha 56% do grupo americano, mas não controlava as pesquisas

Por Agências internacionais e NOVA YORK
Atualização:

O mercado farmacêutico mundial voltou a se agitar ontem, com o anúncio do terceiro negócio multibilionário em apenas 45 dias. A suíça Roche fechou a compra dos 44% que ainda não possuía na americana Genentech, considerada a primeira e mais bem-sucedida empresa de biotecnologia do mundo, em um negócio avaliado em US$ 46,8 bilhões. No final de janeiro, a Pfizer havia anunciado a compra da Wyeth por US$ 68 bilhões e, nesta semana, a Merck fechou a aquisição da Schering-Plough por US$ 41,1 bilhões. Apesar de a Roche já deter 56% da Genentech, a empresa americana tinha uma atuação completamente independente. O grupo suíço é acionista majoritário da Genentech desde 1990, e o relacionamento entre as duas companhias é considerado um dos melhores exemplos de colaboração entre uma gigante do ramo farmacêutico e uma empresa da área de biotecnologia. A Roche forneceu dinheiro e proporcionou o marketing dos produtos da Genentech fora dos Estados Unidos. Em troca, a Genentech desenvolveu ou ajudou a desenvolver três remédios para o tratamento do câncer - Avastin, Herceptin e Rituxan - que são hoje os maiores sucessos de vendas da Roche. A Roche disse que o controle total sobre a Genentech vai aperfeiçoar a coordenação entre as empresas e reduzir as sobreposições. Também garante os direitos de comercialização, por parte da Roche, dos novos produtos desenvolvidos pela Genentech depois de 2015, quando se encerra um acordo de comercialização já existente entre as empresas. Segundo analistas, a Roche fez um grande esforço para fechar o negócio antes do próximo mês, quando serão divulgadas informações sobre um teste clínico do Avastin, um dos remédios da Genentech para o tratamento de câncer. Esse teste, que avalia o efeito do Avastin no tratamento do câncer de cólon após a cirurgia para a remoção dos tumores, poderia abrir um imenso novo mercado para o remédio, que no momento é aprovado apenas para o tratamento de câncer num estágio mais tardio. Se o Avastin funcionar nos testes clínicos, os analistas disseram que as ações da Genentech têm potencial de atingir os US$ 100 cada ou até mais, o que encareceria para a Roche a aquisição da empresa. Se o remédio não funcionar, o valor das ações da Genentech pode cair para menos de US$ 70, dizem os analistas. Pelo acordo anunciado ontem, a Roche vai pagar US$ 95 por ação. MANIPULAÇÃO GENÉTICA A Genentech foi fundada em 1976 por Robert Swanson, um jovem capitalista investidor, e por Herbert W. Boyer, professor da Universidade da Califórnia em São Francisco. Boyer colaborou no desenvolvimento da técnica de manipulação genética por meio do "splicing", e a Genentech foi a primeira empresa a ganhar dinheiro com ela, produzindo o primeiro remédio - a insulina humana - criado em bactérias geneticamente modificadas. O diretor executivo da Genentech, Arthur D. Levinson, disse que uma das chaves para o sucesso da empresa era a contratação dos melhores cientistas, pessoas que habitualmente só encontram trabalho nas universidades. A Genentech permite que os cientistas explorem seus próprios interesses durante parte da sua jornada de trabalho, e os autoriza a publicar sua obra em revistas científicas. A Genentech garantiu no ano passado mais patentes em biologia molecular do que qualquer outra empresa, superando até mesmo o governo americano e o vasto e tão alardeado sistema da Universidade da Califórnia. Ainda assim, o histórico da empresa foi maculado por escândalos envolvendo a sua comercialização do hormônio de crescimento humano e pelo roubo noturno de valiosas amostras de um laboratório universitário. Recentemente, a Genentech foi criticada pelo alto preço dos seus medicamentos para o tratamento do câncer, valores cuja cobrança a empresa diz ser necessária para viabilizar a inovação. Agora que o acordo entre as duas empresas foi fechado, após oito meses de negociações, as atenções se voltam para a possibilidade de a Roche manter os principais administradores e cientistas que garantiram o sucesso da Genentech. Caso isso não seja possível, a Roche pode acabar arruinando a operação da sua controlada. Para analistas, o fato de a aquisição ter sido finalmente aprovada em termos amigáveis aumenta as chances de permanência do pessoal da Genentech. Além disso, o mercado de trabalho não vive um momento muito animador. Franz Humer, presidente da Roche, expressou sua esperança de manter a cultura e a equipe da Genentech. "Acho que agora temos clareza quanto ao nosso destino e poderemos assim avançar juntos", disse. NÚMEROS US$ 95 por ação é o preço a ser pago pela Roche aos acionistas da Genentech, o que leva o valor do negócio a US$ 46,8 bilhões US$ 41,1 bilhões foi o valor da aquisição da Schering-Plough pela Merck, anunciada esta semana US$ 68 bilhões foi o valor da compra da Wyeth pela Pfizer, anunciada em janeiro

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