PUBLICIDADE

Rodada Doha 'ainda está por um fio', diz Amorim

Ponto crucial continua sendo divergência sobre mecanismo de salvaguarda.

Por Márcia Bizzotto
Atualização:

O ministro das Relações Exteriores, Celso Amorim, deixou a sede da Organização Mundial do Comércio (OMC) na madrugada da segunda-feira afirmando que as negociações da Rodada Doha "ainda estão por um fio", depois de passar mais de doze horas reunido com os outros seis principais países no processo (Índia, China, Estados Unidos, União Européia, Japão e Austrália). "Estamos ainda procurando uma solução. Não encontramos, tenho que ser franco. Algumas idéias foram apresentadas e não foram rejeitadas, mas também não foram aceitas", resumiu Amorim ao final da jornada, às 2h00 da madrugada (horário de Genebra). O ponto crucial continua sendo a existência de interesses opostos em relação a um mecanismo de salvaguarda que permitiria aos países em desenvolvimento subir tarifas aduaneiras para se proteger de um surto de importações que possa prejudicar sua segurança alimentar. Índia, China e outros 80 países com economias consideradas vulneráveis condicionam sua adesão ao acordo a que sejam melhorados os parâmetros para a aplicação dessa medida, rejeitada por Paraguai, Uruguai e outros países cujas economias dependem das exportações de alguns poucos produtos agrícolas. Tensão "A situação é muito tensa e um resultado não está, de forma nenhuma, garantido", informou o porta-voz da Organização Mundial do Comércio (OMC), Keith Rockwell, à meia-noite, horário de Genebra. Nesse momento, os ministros do Grupo dos Sete iniciavam uma nova reunião para tentar resolver o impasse junto ao diretor-geral da OMC, Pascal Lamy, que passou a tarde reunindo-se privadamente com os mais insatisfeitos. "Durante o dia de hoje houve uma variedade de propostas, sugestões, fórmulas, trazidas por altos funcionários, ministros, embaixadores, todos tentando encontrar uma saída para essa questão", comentou Rockwell. O Brasil tentou mediar o conflito propondo que os sócios da OMC busquem uma solução "neutra" que permita flexibilizar as posições de seus aliados no G20 sem ter que mudar os pontos já definidos no pacote de Lamy. Mudanças Ao sair para uma pausa nas discussões, o ministro de Comércio da Índia, Kamal Nath, acusado de intransigência pelos Estados Unidos, afirmou aos jornalistas que está disposto a aceitar uma nova proposta apresentada pelo diretor-geral da OMC, Pascal Lamy, que melhoraria as condições para a aplicação do mecanismo de salvaguarda. Mas um diplomata envolvido nas negociações afirma que Estados Unidos se opõem à mudança. Segundo o mesmo diplomata, o novo papel oferece condições flexíveis para que os países decidam quando aplicar as salvaguardas. A proposta anteriormente rejeitada por Índia, China e outros cerca de 80 países pobres determinava que a medida de proteção só poderia ser acionada quando as importações de alimentos subissem 40%. Ao deixar a sede da OMC, o comissário de Comércio da União Européia, Peter Mandelson, mal-humorado, afirmou que "o show continua". O Grupo dos Setes volta a se reunir na terça-feira ainda na tentativa conciliar as posições sobre o mecanismo de salvaguarda, mas também com a missão de resolver os outros pontos ainda pendentes, como a questão dos subsídios americanos aos produtores de algodão. BBC Brasil - Todos os direitos reservados. É proibido todo tipo de reprodução sem autorização por escrito da BBC.

Comentários

Os comentários são exclusivos para assinantes do Estadão.