
20 de setembro de 2014 | 16h18
As condições de uma estrada de terra podem ser infinitamente melhores que as de uma rodovia asfaltada. Essa é a lição ensinada a quem cruza o trecho da BR-155 entre Redenção e Eldorado dos Carajás, no Estado do Pará.
A situação é de total abandono. Cerca de 200 quilômetros do percurso estão em condições absolutamente intrafegáveis. Caminhões, ônibus e carros são obrigados a fazer um zigue-zague constante para desviar das crateras abertas no asfalto. O risco de acidente é alto por causa das pedras de concreto espalhadas no caminho.
Vale do Araguaia busca saída para seu futuro
O Departamento Nacional de Infraestrutura de Transportes (Dnit) trabalha na pavimentação de aproximadamente 50 km da rodovia, nas proximidades de Redenção. A BR-155 passou a ser uma responsabilidade da autarquia federal em 2010, quando ainda se chamava PA-150. O desleixo com a maior parte do traçado, segundo o Dnit, é resultado da falta de compromisso do governo paraense com a manutenção da estrada.
“A BR-155 era um flagelo de buracos, uma rodovia estadual que não recebeu o pavimento adequado. Jogavam um asfaltozinho lá e chamavam de estrada. Agora, nós estamos resolvendo isso, mas esse processo demora um tempo”, diz o diretor-geral do Dnit, general Jorge Fraxe. A federalização da rodovia, segundo ele, atendeu a um pedido feito pelo governo do Pará, que não queria mais cuidar da estrada.
Para complicar mais a situação, nesta época do ano a BR-155 é marcada por queimadas em seu entorno. Durante a viagem, o [BOLD]Estado[/BOLD] cruzou vários focos de incêndio, onde o fogo avança até o asfalto, em pontos onde não há manutenção. Em algumas situações, caminhões e carros são obrigados a parar e aguardar o fim das labaredas. “Todo mundo tem evitado subir pela BR-155 por causa das condições da estrada. Quem vai tem que estar disposto a tudo”, diz Leonir Rosseto, que planta soja há 18 anos na região de Redenção.
O Dnit informou que já garantiu investimentos de R$ 315,8 milhões para a recuperação da BR-155 e que parte desses recursos está em execução. Outros R$ 191,2 milhões serão investidos na BR-158, em trechos de Mato Grosso e Pará.
Os pesadelos da rota do Araguaia repercutem no frete cobrado por quem se aventura pela região, um dos mais caros do país. Hoje, o transporte de grãos entre os 1,3 mil km que ligam Confresa (MT) e o porto de Barcarena (PA) custa R$ 175 a tonelada.
“Em qualquer outra área do País, um trajeto de 1,3 mil km custa R$ 160 a tonelada. E essa situação piora no pico da safra, quando nosso frete sobe até 40%. É o custo que pagamos pelas estradas que temos”, afirma Humberto Borges, diretor de planejamento da Fazenda Bom Sucesso, em São José do Xingu (MT).
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