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Rodrigo de Rato, do FMI, escolhe o muro como abrigo à crise

Direto da fonte

Por Sonia Racy e sonia.racy@grupoestado.com.br
Atualização:

Sem surpresas ou emoções o discurso de Rodrigo de Rato, diretor-gerente do FMI, na abertura do Congresso Internacional de Derivativos e Mercado Financeiro, organizado pela BM&F, quarta-feira à noite, em Campos do Jordão. Pudera. O que poderia dizer um dirigente de uma instituição conservadora como o Fundo, em tempos de crise aguda, quando não se sabe sequer se esta se limitará a ser uma crise de liquidez ou se vai evoluir para uma crise de solvência? Mesmo assim, o tom do discurso causou uma certa frustração na enorme platéia, altamente especializada, que estava ali para ouvi-lo, mesmo com a crise ainda rondando os mercados. Frustração que acabou plenamente revertida nas demais palestras de ontem, de economistas que não costumam freqüentar os palcos brasileiros, como Edmund Phelps, Anne Kruger e Ricardo Caballero, do MIT e do Laboratório Econômico Mundial, especializado em mecanismos de prevenção de crises sistêmicas. Poderia ser mais atual? Se De Rato não avançou em temas polêmicos, avançou em defesa das vantagens da existência de mercados estruturados para o crescimento econômico sustentável. E, dentro deste espectro, destacou a sofisticação e transparência destes mercados no Brasil e no Chile, que, vale registrar, não participaram dos últimos anos do boom dos mercados hipotecários e de crédito para consumo. ''''Lamentavelmente'''', ponderou De Rato, que aproveitou para defender leis que facilitem a transferência de crédito e de depósitos e o intercâmbio de informações sobre clientes, o que diminuiria o poder dos bancos sobre seus clientes. De Rato ponderou ainda que uma melhora do entorno legal melhoraria a regulação de uma maneira ampla. ''''As regulações estabelecidas pelas autoridades nacionais também podem complementar-se eficazmente mediante códigos de condutas desenvolvidos por bancos e instituições financeiras locais, sobretudo nos países com um sistema de direito e de aplicação deficiente de leis.'''' E, surpreendentemente, disse que as economias emergentes devem, entre outras, ampliar a educação financeira, ''''para que os consumidores possam entender melhor o que estão fazendo''''. IMPRESSÃO DIGITAL Auditório lotado, ontem, para a mais aguardada palestra do seminário da BM&F: a do Prêmio Nobel de Economia, Edmund Phelps, que brindou a platéia com sua visão sobre a atual crise, defendendo maior regulação dos mercados. E, sem que ninguém tivesse perguntado, acusou nominalmente as agências Standard & Poor''''s e Moody''''s de não estarem entendendo nada do que está acontecendo, não só agora, como nos últimos dez anos. E explicitou a necessidade do surgimento de novas agências, com condições de atender às necessidades dos mercados. Fez isso no mesmo dia em que a Moody''''s elevava ratings do Brasil, igualando-os aos de outras agências. NA FRENTE PHELPS 2 Já a fala do economista sobre a América Latina não agradou. ''''Ele tratou o continente como uma commodity'''', reclamou o ex-Bovespa Álvaro Augusto Vidigal. Phelps tampouco se mostrou ''''centrado'''' nas respostas a perguntas mais objetivas da platéia, depois da sua palestra. Coisa compreensível para um ''''pensador''''... LORD MAYOR John Stuttard, Lord Mayor da Citi londrina, levantou questão bastante pertinente nesta crise: que lei vale neste mundo globalizado, em que uma operação pode começar em Cingapura, passar por NY e bater no Brasil? Com a superposição de esferas normativas, fica difícil regular qualquer coisa. LORD MAYOR 2 Vendendo seu peixe, Stuttard defendeu a instalação, em Londres, de um fórum permanente para debater mecanismos que combatam essa superposição. Ironia: o mercado londrino cresceu por causa da lei americana Sarbanes-Oxley, mais rígida, que fez os negócios migrarem para a Europa. Além disso, como controlar um mercado que tem US$ 87 trilhões negociados em bolsas e US$ 415 trilhões, no balcão? FRANCO Também palestrante em Campos do Jordão, o ex-BC Gustavo Franco, com sua habilidade de transpor teoria para realidade, ponderou, sabiamente, ser muito improvável que o Brasil promova uma reforma tributária na medida das necessidades do País. ''''Não temos a cultura de corte de impostos como instrumento de política econômica.'''' Portanto, avaliou, a reforma deveria se dar onde é mais fácil, como no âmbito do PIS e do FGTS, cuja existência questionou, somando a esta questão o BNDES, ''''dependente-mor'''' do FGTS. FRANCO 2 Mas onde as empresas brasileiras buscariam recursos? Segundo Franco, os investimentos de US$ 27 bilhões feitos por empresas espanholas e portuguesas no Brasil, nos últimos anos, não foram financiados por bancos como o BNDES. E sim pela valorização destas empresas nas bolsas. No Brasil estaria acontecendo o mesmo: a valorização do mercado acionário é hoje o fator propulsor da expansão das empresas nacionais, tanto aqui como no exterior. ONLINE Paulo Malzoni anuncia hoje investimento de R$ 92 milhões na revitalização do Shopping West Plaza. Parte de um pacote de R$ 300 milhões que o Grupo Victor Malzoni vai aplicar na ampliação do Shopping Paulista e do Pátio Higienópolis.

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