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Roemer diz que austeridade ameaça zona do euro

Por Talita Fernandes
Atualização:

O líder nas intenções de voto para as eleições gerais holandesas, que serão realizadas no próximo mês, advertiu hoje que o foco exclusivo na austeridade está paralisando a economia do país e pode separar a zona do euro. "Eu não posso dizer se nós vamos ser capazes de manter o euro. A economia europeia está muito ferida pela austeridade", afirmou Emile Roemer, durante lançamento da campanha do Partido Socialista, pelo qual é candidato.Roemer culpou em parte as falhas do modelo de criação da zona do euro pelos problemas econômicos atuais e disse que "tecnocratas" ganharam poder à custa dos eleitores. Em sua fala, o candidato afirmou também que os países da periferia da zona do euro deveriam ter mais liberdade. "A Europa deveria estar a favor das pessoas, e não de multinacionais e do setor financeiro", afirmou. O partido de Roemer se beneficiou do ressentimento crescente dos eleitores com as políticas de austeridade lideradas pela Alemanha e os pacotes de resgate da zona do euro. Algumas pesquisas mostram uma clara liderança do candidato socialista em relação ao Partido Liberal do primeiro-ministro, Mark Rutte. A Holanda vinha sendo uma das economias aliadas do plano de austeridade encabeçado pela Alemanha.O governo de minoria de Rutte entrou em colapso em abril logo após conversas sobre novas medidas de austeridade. A coalizão de governo concordou com um pacote para reduzir o déficit do Orçamento para níveis inferiores ao limite estabelecido pela União Europeia, de 3% do Produto Interno Bruto (PIB), até 2013. Pesquisas mostram que os eleitores holandeses podem rejeitar o pacote já que eles estão frustrados com a austeridade e cautelosos em salvar os governos dos países do sul da Europa. De acordo com pesquisa divulgada neste domingo pelo site Peil.nl, o Partido Socialista - que não apoia o plano de austeridade - conquistaria a maioria dos assentos no Parlamento e elegeria 36 por 150 membros nas eleições marcadas para 12 de setembro, quatro a mais do que o Partido Liberal de Rutte.A Holanda ainda é considerada uma das mais fortes economias da zona do euro, com baixo desemprego e um recorde de mais de uma década de prudência fiscal. Em 2012, entretanto, as projeções da União Europeia indicam que o país poderá ser uma das regiões com performances mais fraca deste ano, à medida que cortes de gastos e o colapso nos preços dos imóveis pressionam a demanda doméstica.O Partido Socialista não rejeita as regras orçamentárias da UE, mas quer mais dois anos para implementá-las. Como proposta para reavivar a economia, Roemer quer aumentar os gastos com infraestrutura e escolas. Ele também busca reverter o planejado aumento na idade de aposentadoria, aumentar o salário mínimo e desfazer os cortes de gastos com seguridade social e saúde.Roemer, que já foi professor de ensino fundamental, se tornou popular por transmitir de forma clara suas mensagens e por seu comportamento alegre e informal. Críticos dizem que as promessas dele poderiam trazer problemas para as finanças públicas. O ministro das finanças, Jan Kees de Jager, um defensor da disciplina orçamentária, disse na semana passada que os comentários de Roemer estão causando mal-estar nos mercados financeiros.Atualmente, a Holanda está no meio de um colapso imobiliário que tem algumas semelhanças - ainda que não com a mesma gravidade - com o que empurrou a Espanha para uma profunda crise econômica. Um boom no mercado imobiliário nos anos 1990 e 2000, alimentado pelo crédito barato, caminhou para um final abrupto, resultando em queda dos preços dos imóveis e numa nítida contração no setor de construção civil. A crise está afetando o sentimento do consumidor, uma vez que muitos proprietários começaram a guardar mais dinheiro para pagar as hipotecas.Na última semana, alguns dos maiores bancos do país informaram um aumento na inadimplência, tanto em hipotecas quanto em imóveis comerciais. O regulador bancário da Holanda alertou que uma recessão profunda nos mercados imobiliários poderia agravar os problemas."Nós vamos fazer escolhas diferentes", disse Roemer, "não é o ritmo da austeridade que importa, mas a qualidade". As informações são da Dow Jones.

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