A menos que ainda possamos vir a contar com superpoderes de Simone Tebet, o que nos aguarda em outubro é o que mais se temia: um mano a mano entre Lula e Bolsonaro. Sairá vitorioso quem conseguir conquistar, em encarniçado segundo turno, apoio decisivo dos eleitores de centro que ainda resistem à escolha entre os dois candidatos.
É dessa perspectiva que se afigura a cada dia mais intrigante resistência de Lula a dar demonstrações claras e inequívocas de que está disposto a se mover para o centro do espectro político. E, nunca é demais insistir, tal movimento teria que se dar ao longo do eixo que verdadeiramente importa, que é o da condução da política econômica.
Sobre isso, Lula continua fechado em copas. E o pouco que deixa entrever, em esparsas declarações à mídia, só contribui para reforçar a percepção de que ele continua resistindo a se mover para o centro e, pior, propenso a se mover para a esquerda. Em suas breves menções ao teto de gastos, à política de preços de combustíveis e à reforma trabalhista, por exemplo, só há referências ao que será desfeito, desmontado e desmantelado. Nenhum esclarecimento sobre o que será posto de pé ao cabo do bota-abaixo.
O suposto esforço de tranquilização do empresariado quanto à condução da política econômica, a que o candidato estaria recorrendo, tem sido pautado pelo amadorismo, para dizer o mínimo. A começar pela estranha escolha do ex-ministro da Saúde Alexandre Padilha como representante hábil de Lula nessa complexa interlocução.
A verdade é que o movimento de Lula em direção ao centro, no eixo da condução da política econômica, exigiria um grau de sutileza e sintonia fina que os economistas do partido não estão em condições de assegurar. A maior parte deles ainda permanece de luto fechado, imersos em lamentações pelo sexto aniversário do impeachment de Dilma Rousseff, vociferando contra tudo o que ocorreu com a condução da política econômica desde que a ex-presidente teve de desocupar o Palácio do Planalto.
O problema é que falta muito pouco tempo para o primeiro turno da disputa presidencial. E Lula continua brincando com a sorte, certo de que conseguirá atrair o eleitor de centro, na maciota, sem se mover para o centro. E até se dando ao luxo de se mover para a esquerda. Ainda não se deu conta de que o timing do movimento para o centro pode ser crucial. Se for deixado para o último momento e tiver de ser feito às pressas, perderá a credibilidade necessária para que pareça convincente.
*ECONOMISTA, DOUTOR PELA UNIVERSIDADE HARVARD, É PROFESSOR TITULAR DO DEPARTAMENTO DE ECONOMIA DA PUC-RIO