PUBLICIDADE

Publicidade

Rolagem da dívida brasileira preocupa mercados

Por Agencia Estado
Atualização:

A preocupação crescente entre analistas e gestores de fundos em Wall Street com a dificuldade, do governo e das empresas do Brasil, de rolarem suas dívidas no médio prazo somou-se hoje às pressões que os títulos da dívida externa vêm sofrendo desde a sexta-feira passada, com a crise deflagrada pelas novas regras para os fundos mútuos reportarem as oscilações nos preços dos ativos nas suas carteiras. Na opinião do diretor de pesquisa global para mercados emergentes do Barclays Capital, José Barrionuevo, a mudança na pespectiva (?outlook?) do rating (classificação) soberano brasileiro de positiva para estável pela Moody´s, ontem, refletiu apenas o nervosismo crescente do mercado com a dinâmica da dívida pública brasileira. "Há o temor dos investidores de que o novo governo tenha uma postura mais populista. As chances de vitória de Lula (do PT) são mais concretas hoje, e as declarações, por membros do PT, de que há a intenção de direcionar o superávit primário, que o atual governo vem conseguindo obter, com gastos sociais, deixam o mercado mais nervoso. Isso porque o atual governo tem utilizado o superávit primário para impedir que a dinâmica da dívida pública entre para uma tendência explosiva e perigosa", afirmou Barrionuevo à Agência Estado. "A Moody´s apenas reflete uma preocupação já crescente no mercado sobre a dívida pública", disse Barrionuevo. E esses temores do mercado, agravados com o mal-estar por conta da surpresa de antecipação das regras de marcação a mercado dos ativos dos fundos mútuos, têm zerado o apetite por papéis do governo de prazo mais longo, segundo o diretor-gerente da Discovery Capital Management, Rogério Chequer. "Existe uma falta de apetite por papéis mais longos no mercado doméstico. Isso preocupa os investidores em relação ao que vai acontecer daqui para frente com o cronograma de rolagem que tanto o Banco Central e as empresas têm de fazer", disse Chequer à Agência Estado. Segundo ele, as novas regras de marcação a mercado para os fundos mútuos causou um mal-estar e somente agravou a preocupação com a rolagem das obrigações financeiras do governo e empresas. Na opinião do estrategista-chefe de renda fixa para mercados emergentes da Lehman Brothers, Marco Santamaria, a rolagem da dívida do setor público e privado ajudou a piorar o humor no mercado, hoje. "Toda vez que o preço dos títulos cai fortemente, como nos últimos dias, a preocupação cresce no mercado com a rolagem da dívida, independentemente de essa preocupação ser justificada do ponto de vista dos fundamentos. Hoje, as pessoas estavam mais preocupadas com essa questão do refinanciamento da dívida", afirmou Santamaria à AE. Para Chequer, da Discovery Capital Management, é o sentimento, mais do que a realidade, que tem pesado sobre o mercado. "O fluxo de notícias nos últimos dias tem sido positivo, com a aprovação da CPMF sem a noventena e a mais recente pesquisa eleitoral mostrando uma subida do Serra. Porém, o sentimento no mercado está ruim, pois o mercado ainda está no processo de precificar esse cenário de perspectiva mais difícil do governo para rolar papéis", afirmou Chequer. Quando esse processo tem início, explicou ele, acontece às vezes um "overshooting" e exagero na queda dos títulos. "Em algum momento, pode ser amanhã ou semana que vem ou daqui a um mês, poderá chegar um momento que os papéis se recuperam", explicou. Na opinião de Santamaria, do Lehman Brothers, os títulos da dívida brasileira caíram para um patamar tão baixo que já apresentam um valor por estarem baratos. "Aconteceram fatores técnicos no mercado doméstico que causaram o movimento de venda, mas do ponto de vista de fundamentos houve notícias favoráveis como a aprovação da CPMF e pesquisas eleitorais positivas", disse. Santamaria acredita que, depois da queda acumulada nos últimos dias, os investidores já começam a pensar em tirar proveito dos preços baratos da dívida brasileira. "Se eles vão entrar hoje, amanhã ou em algumas semanas, ainda não dá para saber", disse.

Comentários

Os comentários são exclusivos para assinantes do Estadão.