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Rombo das contas externas soma US$ 59 bi em 2015 e é o menor em seis anos

Mesmo no menor patamar desde 2013, Investimento Direto no País atingiu US$ 75 bi no ano passado e foi suficiente para cobrir o déficit

Foto do author Célia Froufe
Por Célia Froufe (Broadcast) e Victor Martins
Atualização:

BRASÍLIA - O rombo nas contas externas em 2015 somou US$ 58,942 bilhões, o equivalente a 3,32% do Produto Interno Bruto (PIB), conforme informou nesta terça-feira, 26, o Banco Central (BC). Com isso, o resultado do ano passado foi o mais baixo em seis anos. Em relação ao PIB, a taxa é a menor desde 2013. 

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O mercado esperava um déficit de US$ 59 bilhões este ano, segundo mediana obtida pela Agência Estado com 14 instituições financeiras, que projetavam um rombo de US$ 57,7 bilhões a US$ 61,9 bilhões. A última estimativa do BC era de um déficit de US$ 62 bilhões para 2015.

Somente em dezembro, o déficit das transações correntes somou US$ 2,460 bilhões, após um rombo de US$ 2,931 bilhões em novembro. A projeção do BC para a conta corrente do mês era de um saldo negativo bem maior, de US$ 5,6 bilhões. A balança comercial registrou um saldo positivo de US$ 6,068 bilhões no mês, enquanto a conta de serviços ficou negativa em US$ 2,531 bilhões. Já a conta de renda ficou deficitária em US$ 6,455 bilhões.

A balança comercial registrousaldo positivo de US$ 6,068 bilhões em dezembro Foto: Clayton de Souza|Estadão

O chefe do Departamento Econômico do BC, Tulio Maciel, defendeu que, diante de um quadro de incertezas externas e internas, a realização de um ajuste de contas externas deve ser avaliado como um fato positivo. "Foi um ajuste muito expressivo em termos anuais", reforçou.

O técnico fez questão de dizer que poucas vezes nos registros do BC houve ajuste anual "dessa relevância". Ele disse que, todas as vezes em que houve resultados mais acentuados em anos anteriores, também houve mudança de câmbio e de conjuntura, como em 2015. Além disso, ele citou o impacto de mudanças estruturais.

"Em termos estruturais, é importantíssimo ter em conta o regime de câmbio flutuante. O câmbio é a primeira linha de defesa das contas externas, e isso efetivamente ocorreu em 2015", citou. Para janeiro, Maciel projetou um déficit de US$ 6,7 bilhões em conta corrente. Essa estimativa, segundo ele, mostra continuidade do ajuste nas contas externas.

Segundo o economista Thiago Biscuola, da RC Consultores, a desvalorização do real ante o dólar, de 48,5% em 2015, foi determinante para a melhora no balanço de pagamentos no ano passado e, mesmo que 2016 não registre uma mudança na taxa de câmbio tão significativa, os números referentes ao setor externo devem registrar uma nova melhora neste ano.

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"A desvalorização do real no fim do ano foi de 48,5%, mas a taxa média ficou em cerca de US$ 3,30, US$ 3,40. Então, na média, ainda vai ter uma forte desvalorização da moeda", explica. "A alteração do nível do câmbio ao longo de 2015 vai forçar uma nova melhora na balança de pagamentos em 2016", projetou.

Investimento estrangeiro. No caso do Investimento Direto no País (IDP), o Brasil atraiu um montante de US$ 75,075 bilhões ao longo do ano passado, ante expectativa do BC de entradas no valor de US$ 66 bilhões. O resultado é o menor desde 2013, mas foi, de longe, suficiente para cobrir o rombo nas transações correntes (de US$ 59 bilhões).

Levando-se em conta a curta série histórica, o IDP somou US$ 88,452 bilhões em 2010; US$ 101,158 bilhões em 2011; 86,607 bilhões em 2012; US$ 69,181 bilhões em 2013 e US$ 96,895 bilhões em 2014. Na comparação com o PIB, essa relação anual foi, respectivamente, de 4,00%, 3,87%, 3,59%, 2,90% e 4,01%. 

No ano passado, o investimento estrangeiro em ações brasileiras ficou positivo em US$ 10,030 bilhões ante expectativa do BC de US$ 10 bilhões e de resultado positivo de US$ 11,773 bilhões em 2014. O saldo de investimento estrangeiro em títulos de renda fixa negociados no País, por sua vez, ficou positivo em US$ 16,296 bilhões no acumulado de 2015.

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O aumento da procura por esses títulos teve início em junho de 2013, quando o governo zerou o Imposto sobre Operações Financeira (IOF) sobre esse tipo de aplicação. Mais recentemente, o ciclo de aperto monetário aumentou o diferencial de juros entre o Brasil e o restante do mundo, tornando as aplicações brasileiras de renda fixa mais interessantes para os estrangeiros.

Balança comercial. Tulio Maciel destacou que, diante da conjuntura econômica e da variação cambial, as importações (-25,3%) apresentaram recuo mais intenso que as exportações (-15,2%) em 2015. Com esse desempenho, a balança comercial ficou positiva em US$ 17,670 bilhões.

Maciel lembrou, no entanto, que a pesquisa do BC é diferente da apresentada pelo Ministério do Desenvolvimento, Indústria e Comércio Exterior (Mdic). "O BC capta algumas transações que não são passam pelo Mdic, como importação de energia de Itaipu. Há outras pequenas diferenças também", explicou.

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Maciel relatou ainda que as importações, em preço, recuaram 11%, mas entre as exportações o preço caiu 8%. Ele ponderou, no entanto, que a queda no valor dos produtos brasileiros vendidos no mercado internacional foi compensada pela expansão do volume. "Em volume, soja em grão cresceu 20%, o milho cresceu 42% e minério avançou 7,6%. O preço do ferro recuou bastante, mas o volume exportado cresceu. Na parte de manufaturados tivemos avião e etanol como destaques". (Com informações de Mário Braga)

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