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Rombo na Grécia é maior e vai a 13,6%

Estimativa anterior era que déficit orçamentário de 2009 seria de 12,9% do PIB; agência Moody's revisa para baixo a nota do país

Por Andrei Netto , CORRESPONDENTES e PARIS
Atualização:

A economia da Grécia entrou ontem em situação crítica. Dados divulgados pelo Escritório Estatístico das Comunidades Europeias (Eurostat) relevaram que o déficit público do país em dezembro de 2009 foi de 13,6% do PIB, e não 12,9%, conforme a estimativa anterior. A revisão fez aumentar a incerteza já imensa sobre os títulos gregos no mercado, elevando a 8,5% os juros exigidos para novos empréstimos. À beira da falência, Atenas deve recorrer nos próximos dias à União Europeia e ao Fundo Monetário Internacional (FMI) para equilibrar as contas. As estatísticas foram publicadas na manhã de ontem, em Bruxelas, e tiveram impacto imediato no mercado financeiro. O euro despencou à noite a US$ 1,3261, seu menor valor em um ano. Para agravar a situação, a taxa das obrigações do Estado grego com validade de 10 anos chegava a 8,53% às 13 horas. Há um mês, o índice era de 6,03%. Em consequência, para tomar dinheiro emprestado no mercado privado, o governo grego precisa pagar 5,5 pontos porcentuais a mais do que a Alemanha, o país de referência em qualidade de crédito na Europa.A conjuntura adversa se completou com o novo rebaixamento da nota dos títulos da dívida grega pela agência de classificações de risco Moody"s - de A2 para A3 e colocando a economia do país sob observação -, indicando ainda a disposição para um novo rebaixamento. "Há um risco importante de que a dívida possa apenas se estabilizar em um nível mais elevado e mais custoso do que o estimado anteriormente", justificou a agência. Em resposta ao ambiente hostil, o ministro de Finanças da Grécia, Georges Papaconstantinou, veio a público descartar "de forma categórica" a hipótese de falência, considerada cada vez mais próxima. "É um conceito que nós não apenas não usamos, mas que também não foi discutido nem pela Comissão Europeia, nem pelo FMI, e não está em nossas intenções", argumentou, reiterando sua disposição de cortar em 4% o déficit do país neste ano. "Os dados não mudam nosso objetivo de redução do déficit em 2010." Com o aumento da taxa de juros no mercado privado, sobra ao governo grego a alternativa de recorrer à UE e ao FMI.Em 25 de março, os 27 líderes europeus chegaram a um acordo para um plano de socorro de até ? 30 bilhões em 2010, valor que seria destinado ao refinanciamento da dívida do país, com juros subsidiados de 5%.Segundo Papaconstantinou, os detalhes sobre a liberação dos recursos vêm sendo discutidos em Atenas desde quarta-feira por técnicos da Comissão Europeia, do Banco Central Europeu (BCE), do FMI e do governo local. A perspectiva é de que a soma total, estimada em ? 80 bilhões, seja liberada em três anos. "Se nosso país ativar o mecanismo, a validação será rápida. A Grécia não vai sofrer nenhum embaraço em maio, seja por seguiremos tomando emprestado nos mercados, seja por usaremos o mecanismo de apoio."Para tanto, porém, os governos dos demais 15 países da zona euro terão de aprovar o plano de socorro em seus parlamentos. Ontem, a ministra de Finanças da França, Christine Lagarde, garantiu que o texto deve ser apresentado à Assembleia Nacional entre 3 e 4 de maio, e ao Senado entre 6 e 7 de maio. "Estamos falando de empréstimos bilaterais, e não de um presente."A França será o segundo maior contribuinte para o empréstimo, com aproximadamente ? 6,3 bilhões. A Alemanha vai liberar ? 8,4 bilhões para Atenas. Nova paralisação. Apesar do empenho da UE e das instituições internacionais em tentar evitar a falência do país, a população foi às ruas para a quarta greve geral em três meses. A paralisação foi convocada pelos principais sindicatos do país contra o plano de austeridade implementado pelo governo. PARA LEMBRARDesde o início do ano, quando foi realizada a última reunião de cúpula do Conselho Europeu, os líderes nacionais discutem a criação de um mecanismo de socorro à Grécia. Até aqui, o apoio vem sendo apenas político. Uma das maiores dificuldades era aceitar ajuda do FMI, algo até então inaceitável para os países da zona do euro.

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