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Jornalista e comentarista de economia

Opinião|Rombo recorde

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Atualização:

A balança comercial (exportações menos importações) acusou em janeiro um rombo recorde que já vinha sendo antecipado nos radares, de US$ 4,1 bilhões. Só para comparar, em todo o ano de 2013 houve saldo positivo (superávit) de US$ 2,7 bilhões e, ainda assim, conseguidos com as tais "exportações fíctias" de US$ 7,7 bilhões, de sete plataformas de petróleo, que não saíram das águas nacionais.Em janeiro de 2013, o déficit comercial foi quase igual, de US$ 4,0 bilhões, mas esses números não são comparáveis porque importações de petróleo que deveriam ser registradas ainda em 2012 ficaram para janeiro de 2013 e inflaram artificialmente as estatísticas.Os números ruins deste ano chegam num momento em que as contas externas como um todo, e não apenas as do comércio, vêm mostrando deterioração. Isso parece indicar que a economia precisa de suprir-se de mais dólares para honrar seus compromissos e, no entanto, a temporada é de crescente escassez de moeda estrangeira no mercado internacional.Os analistas do governo não veem problema - ou, pelo menos, preferem dizer que não há problema. Confiam em que a Petrobrás aumentará sua produção neste ano em pelo menos 10% e isso ajudará a reduzir as importações.Também confiam na recuperação das exportações de manufaturados, baseados em que o real desvalorizado em pelo menos 20% em relação ao dólar barateou o produto nacional lá fora. Esse efeito pode ter começado a aparecer nas exportações, mas é difícil de prever seu alcance. A indústria brasileira continua pouco competitiva. E, como está muito dependente de suprimento externo de máquinas, peças e componentes, não está claro que mostre desempenho melhor. E há o problema da Argentina. Nada menos que 8% das exportações do Brasil vão para lá. Desse mato sairão menos coelhos, porque a perspectiva especialmente para a Argentina que tem um calote nas costas é de falta de dólares para pagar compromissos externos. E a provável recuperação do comércio mundial também não ajuda porque o Brasil fez sua opção pelos pobres, especialmente pela Argentina e pela Venezuela, e não demonstrou nenhuma questão de fechar acordos comerciais com os países de ponta. É possível que as exportações das safras favoreçam alguma recuperação da balança comercial. Mas não há segurança nisso.O enfraquecimento da balança comercial tem as mesmas causas do aumento da vulnerabilidade geral da economia brasileira. Trata-se da excessiva pressão do consumo não acompanhado de aumento da produção interna, que puxa pelas importações - a começar pelos combustíveis. Como as causas são as mesmas, o ajuste também começaria pelo mesmo procedimento: forte redução das despesas públicas, de maneira a conter o consumo e resgatar a confiança externa. Mas vá saber se há disposição para isso no governo Dilma, que hoje não pensa em outra coisa senão em garantir não apenas a reeleição, mas, também, aumento da base política para seu partido.

Opinião por Celso Ming

Comentarista de Economia

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