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ROUBO EM DUTOS GERA RISCOS E CAUSA PREJUÍZOS

Ação criminosa pode provocar incêndios e explosões

Por SERGIO TORRES , TEXTO , FÁBIO MOTTA e FOTOS
Atualização:

Dutos da Petrobrás por onde passam em alta pressão cargas inflamáveis de nafta, gasolina e óleo diesel são violados por ladrões de combustíveis que têm atuado, especialmente, nas regiões Sudeste e Nordeste. Vítima da ação criminosa, a companhia mantém as investigações sob sigilo. O risco de um acidente grave durante a ação de furto preocupa a direção da empresa, que acionou a Polícia Federal (PF). Um exemplo do perigo pôde ser constatado pelo Estado na tarde da quinta-feira, em área rural do município de Nova Iguaçu, na Baixada Fluminense. A placa da Petrobrás no terreno por onde passa um oleoduto recém-violado está cheia de marcas de tiros. A orientação da PF aos agentes encarregados das investigações é evitar de qualquer jeito um confronto armado com os criminosos em regiões por onde passam os dutos de combustíveis. Um dos casos recentes ocorreu em um oleoduto em Itaquaquecetuba (Grande São Paulo). Em outubro de 2011, litros de nafta escorreram para um córrego, que pegou fogo, e um poço, que explodiu. As chamas subiram a 6 metros. A nafta vazou depois que ladrões arrombaram o duto para furtar combustíveis. Tragédias com centenas de mortes no Brasil e em países como Nigéria e México tiveram origem no vazamento de dutos, a maioria provocada pelo arrombamento por ladrões. Embora não revelado, o prejuízo da Petrobrás é milionário. Envolvida na investigação, a PF calcula que, apenas uma quadrilha que atuou de abril do ano passado a janeiro deste ano no Estado do Rio furtou combustíveis que, se vendidos no mercado tradicional, renderiam no mínimo R$ 2 milhões. A quantia pode não significar muito para a Petrobrás e seus orçamentos na casa dos bilhões de reais, mas representa um lucro formidável para ladrões que só precisam arranjar ferramentas especiais, mangueiras e caminhões-tanque, analisa o chefe da PF em Nova Iguaçu, delegado Jairo Souza Silva. Para o delegado, as quadrilhas no Estado do Rio devem ter sido impactadas pela recente prisão de dez suspeitos de envolvimento no furto de combustíveis: sete na reserva florestal do Tinguá há 15 dias e quatro em 24 de dezembro na cidade de Piraí (centro-sul do Estado). "Nosso maior temor na abordagem é que ocorram tiroteios. O furto acontece em válvulas de segurança de dutos por onde passam os combustíveis. Um tiro que atinja os dutos pode causar uma tragédia", disse o policial. Registros da ação das quadrilhas de ladrões de combustíveis indicam a ocorrência nos últimos dois anos de ataques a oleodutos no interior do Rio, na Baixada Fluminense (periferia da capital), em São Paulo e na Bahia. Mas o problema ocorre em todo o Brasil. A questão preocupa também pelos aspectos ambiental e de segurança. Os arrombamentos de oleodutos resultam em vazamentos que poluem cursos d'água, mangues e áreas de floresta. Os dutos cruzam, preferencialmente, áreas rurais ou povoados de baixa densidade populacional. Daí a proximidade com o meio ambiente. A participação de pessoal da Petrobrás no esquema de furto é investigada reservadamente. Os dutos são subterrâneos e atravessam regiões pouco frequentadas. As válvulas de segurança não ficam em lugares de grande movimento. Logo, os criminosos devem ter um mapa com os pontos onde estão os equipamentos externos dos oleodutos. De acordo com a apuração, as quadrilhas preferem o diesel e a gasolina, que são levados imediatamente para postos coniventes com a ação criminosa e perto dos pontos onde ocorreu a extração clandestina. A nafta também costuma ser furtada, mas o destino dela são galpões, para que o produto seja misturado a combustíveis tradicionais. É uma forma comum de adulteração da gasolina, por exemplo. A Petrobrás informou que o controle dos dutos é feito pela subsidiária Petrobrás Transporte (Transpetro). A companhia exigiu o envio de e-mail com as informações solicitadas pelo Estado. Na resposta, não fala de prejuízos, casos de furtos e prisão recente de criminosos. "A Transpetro possui o Centro Nacional de Controle Operacional (CNCO), que tem como objetivo garantir que petróleo e derivados, gás natural e biocombustíveis cheguem de forma segura e eficiente, através dos dutos, às indústrias, termoelétricas, distribuidoras e refinarias em todo o Brasil", diz a nota.

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