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Economista e sócio da MB Associados

Opinião|Ruptura no mercado de petróleo

O mundo do óleo entrou numa ebulição que irá transformá-lo em algo velho

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Atualização:

NextEra é hoje a mais valiosa empresa de energia dos Estados Unidos. Seu forte é a geração eólica e a solar, nas quais aposta desde 2005. A companhia tem 15 Gigawatts em construção, mais do que tem hoje em operação. Apenas para comparar, o parque eólico brasileiro (que está se expandindo rapidamente) tem uma capacidade total instalada de 16 GW, oriunda de 637 empreendimentos.

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A NextEra tem um valor de mercado de US$ 147 bilhões, maior que o da Exxon, que no começo de outubro valia US$138 bilhões. Aliás, a petroleira, que continua apostando apenas no petróleo, deixou de compor o índice Dow Jones após 92 anos! 

Nada mais pode ilustrar a aceleração recente do início do fim da dominância do petróleo na matriz energética global. De fato, antes do coronavírus, a Shell e outras petroleiras já haviam projetado que o pico de consumo do petróleo se dará por volta de 2030 e não mais 2040, devido, essencialmente, aos esforços de enfrentar o aquecimento global, estimulando o progresso tecnológico que viabilize a passagem para uma nova matriz energética. A pandemia, que reduziu drasticamente o consumo de petróleo, e os avanços acentuados na digitalização e mudanças tecnológicas certamente irão acelerar o processo. 

Esses novos rumos serão os responsáveis pelo menor uso de petróleo. Uma lista incompleta destas novidades incluiria as seguintes:

- Novas fontes de energia: eólica, solar, biogás, bioóleo e equipamentos que extraem o carbono diretamente do ar e o transforma em combustível carbono-neutro (DACs).

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- Veículos elétricos e híbridos. As baterias, que estão próximas de uma revolução, serão também usadas para a otimização do consumo de energia em muitas plantas e empresas.

- Materiais novos derivados do processamento de madeira, cana e outras fontes renováveis.

- Novos equipamentos, como células de combustíveis e bombas de calor.

- Os sistemas de energia estão sendo otimizados, inclusive pela expansão da energia distribuída, a partir de várias dessas fontes, como solar, e de cidades inteligentes. Por exemplo, dependendo da qualidade da insolação, o excedente de energia gerada por um certo número de telhados de residências transforma-se numa pequena usina de eletricidade. 

Em resposta a todas essas mudanças, boa parte das petroleiras, especialmente europeias, estão buscando adicionar outras fontes de energia a seu portfólio, especialmente a eólica e a solar, além do reforço da operação de gás natural, a fonte de carbono que terá vida mais longa. Ao mesmo tempo, novos campos com elevado custo de desenvolvimento, óleo pesado tipo venezuelano e países excessivamente dependentes do produto (Oriente Médio, Nigéria, etc.) enfrentam problemas crescentes.

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O mundo do óleo entrou numa ebulição que irá transformá-lo em algo velho, símbolo de uma era que está passando.

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Mas, e a Petrobrás nisso tudo, como fica?

A meu juízo a companhia está numa estratégia correta. Como sabemos, seu balanço foi totalmente destruído pelo assalto que hoje conhecemos como Petrolão. Fora outros, projetos gigantescos como as refinarias do Recife e o Comperj queimaram algo como US$ 35 bilhões em ativos imprestáveis, resultando na empresa das mais endividadas do mundo.

Daí porque, desde que Pedro Parente assumiu, a prioridade máxima é de vender ativos que não componham o “core” para reduzir a alavancagem e concentrar na aceleração da extração do óleo de seu ativo de classe mundial, o pré-sal. A redução dos custos de exploração e desenvolvimento e a incrível produtividade de vários poços (50-65 mil barris por dia!) e a qualidade do produto vão garantir um fluxo de caixa que permitirá reduzir o endividamento e baixar os seus custos.

Se a transição energética está na porta, a estratégia adequada para o País é de acelerar a extração enquanto a demanda é capaz de absorver a nova produção, exatamente o oposto do que pretendia o governo Dilma.

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Esta é uma corrida contra o tempo: a melhora do balanço da Petrobrás tem de ser rápida o suficiente para gerar recursos que possam ser empregados para desenvolver as energias necessárias para garantir algum futuro para a empresa.

Será que vai dar tempo?

* * * Mesmo para o padrão deste governo a semana que se encerrou foi particularmente tumultuada, revelando a gravidade da situação que vivemos. Repito, então, a pergunta de meu último artigo: será que vamos bater no muro?

*Economista e sócio da MB Associados

Opinião por José Roberto Mendonça de Barros
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