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Rússia pode paralisar comércio de carnes com o Brasil

Agência de vigilância sanitária da Rússia ameaça remover fiscais do País

Por Agencia Estado
Atualização:

A agência de vigilância sanitária da Rússia (Rosselkhoznadzor) ameaçou remover do Brasil seus fiscais encarregados de controlar as exportações de carne, decisão que paralisaria completamente o comércio entre os países, informou a agência Interfax. "Estamos estudando a possibilidade de chamar nossos especialistas de volta. Deve-se entender que tal decisão pode paralisar completamente o comércio", disse um representante da Rosselkhoznadzor à Interfax. As exportações de carne do Brasil para a Rússia só são possíveis mediante a aprovação de certificados veterinários por especialistas russos em solo brasileiro, antes do embarque. A retirada dos especialistas poderia resultar na suspensão das exportações brasileiras, afirmou o funcionário. A medida está sendo avaliada, nas palavras do governo russo, devido às "graves condições fitossanitárias existentes no Brasil" e pela ausência de resposta do País em relação aos pedidos russos de maior rigor na fiscalização. Além disso, a Rosselkhoznadzor acredita que o serviço brasileiro de fiscalização sanitária está ocultando deliberadamente informações sobre doenças animais. Na quarta-feira, 14, o governo russo já havia ameaçado proibir por completo as exportações brasileiras de carnes "in natura". Os russos reclamam que carne de Estados proibidos de exportar devido à febre aftosa estaria sendo desviada para outros Estados livres e sendo embarcada através deles. Notícia surpreende O Ministério da Agricultura informou que causou surpresa a notícia de que a Rússia ameaça interromper a importação de carnes brasileiras. O governo federal explicou ainda que não foi informado oficialmente pelo governo russo de qualquer decisão tomada sobre o assunto. A Rússia é a maior cliente das carnes brasileiras, com um faturamento próximo a US$ 1,5 bilhão anual. Em 2006, as exportações de suínos para aquele mercado movimentaram 267 mil toneladas e US$ 622,25 milhões, ou 50% do volume e 60% do faturamento de todo o setor. Foram exportadas ainda 330,27 mil toneladas de carne bovina brasileira para a Rússia, o que gerou US$ 765 milhões no ano passado, ou 20% de toda a exportação. Os russos são responsáveis também por cerca de 30% da carne de frango exportada pelo Brasil. Segundo o Ministério da Agricultura, a última informação recebida da Rússia sobre o assunto foi a concordância de se criar, entre os dois países, um grupo de trabalho técnico para desenvolver um certificado digital de exportação de carnes, o que evitaria a falsificação do documento. O governo brasileiro admite que cerca de 300 a 400 documentos deste tipo são falsificados por ano e, por isso, passou a enviar, desde o ano passado, quinzenalmente, a relação dos documentos para a Rússia, o que não era feito anteriormente. A falsificação dessas guias seria uma das causas da ameaça da Rússia de suspender as importações de carnes, além das questões sanitárias no campo. Mais problemas De acordo com Ari Crespim dos Anjos, do Departamento de Inspeção de Produtos de Origem Animal (Dipoa), do Ministério da Agricultura, o maior problema de se criar um certificado eletrônico de exportação é a barreira do idioma entre os dois países. "Como os sistemas de informática são diferentes, seria preciso estudar uma convergência, o que será feito por esse grupo de trabalho", disse o técnico. O Brasil deve utilizar como base o sistema de certificação eletrônica de exportação que já ocorre entre a Austrália, segundo maior exportador de carne bovina do mundo, e o Canadá. Crespim explicou ainda ser muito difícil para o governo federal identificar a falsificação, pois não se sabe em que ponto da cadeia ela ocorre. Ele afirmou ainda que o fato de a carne brasileira ser uma das melhores do mundo é um incentivo à falsificação dos certificados, como ocorre, por exemplo, com o uísque escocês.

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