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Safra de vinhos pode ser a melhor em 10 anos

Só falta o clima na Serra Gaúcha ficar como está por mais 3 semanas

Por Elder Ogliari
Atualização:

Os produtores de uva e vinho da Serra Gaúcha estão diante da perspectiva de mais uma safra de qualidade superior, tão boa como as de 1991, 1999, 2004 e 2005 e capaz de levá-los à elaboração de bebidas especiais, daquelas que só lançam em anos excepcionais. O responsável pela boa nova é o clima. O inverno foi frio e o verão tem sido ensolarado, com grande variação entre a temperatura da madrugada, amena, e a da tarde, quente. A soma dessas condições é ideal para a formação e a maturação da fruta com alta concentração de açúcar e polifenóis. As variedades de uvas precoces, como chardonnay e pinot noir, já foram colhidas no ponto ideal de aroma e acidez fixa para a elaboração de espumantes. As intermediárias, como merlot, tannat e ancelota, estão sendo colhidas esta semana. Nos próximos dias será a vez das tardias, como cabernet sauvignon, cabernet franc e moscatel. A torcida dos vitivinicultores é por mais três semanas de clima adequado para confirmar a grande safra. E o temor, que pode reduzir a qualidade, é a ocorrência de chuva intensa, que poderia tanto conter a formação do açúcar como prejudicar a sanidade das bagas. Como tudo indica que a qualidade será boa, as vinícolas esperam lançar produtos especiais. A Miolo anunciou que deve produzir o Lote 43, um corte de cabernet sauvignon e merlot, o Merlot Terroir e o espumante Brut Millésime, rótulos de safras excepcionais que não foram lançados em 2006 e 2007. Outra vinícola tradicional do Vale dos Vinhedos, a Valduga, vai retomar a elaboração do varietal Sauvignon Blanc, suspensa há quatro anos porque a uva não atingia a qualidade desejada. "Este ano percebemos que o vinho pode ficar maravilhoso", diz a diretora-comercial, Juciane Casagrande. O enólogo João Valduga revela que, se as expectativas se confirmarem, a casa partirá para a sua linha de anos excepcionais, com dois varietais, o cabernet sauvignon Luiz V e merlot Storia. "Serão os ícones da Valduga", comenta, antecipando que os rótulos informarão a localização do vinhedo, o dia da colheita e da vinificação. "Mas, como temos que ter primeiro o vinho, para depois fazer o rótulo, não confirmo o lançamento", diz, referindo-se à necessidade de esperar pelo resultado da safra. Ao mesmo tempo em que é cauteloso, Valduga acredita que a atual safra será a melhor dos últimos dez anos para os vinhos brancos e espumantes e tende a se emparelhar com a dos tintos de 1999 e 2001. Mas com a vantagem de incorporar mais tecnologia à generosidade do clima para melhorar ainda mais o sabor da bebida. "A gente fica em estado de graça quando tudo dá certo", comenta. "Todas as vinícolas vão melhorar em todas as linhas neste ano." Na maior vinícola brasileira, a Cooperativa Aurora, que processa cerca de 50 milhões de quilos de uva por ano, cultivados por cerca de 1,1 mil famílias, as grandes safras são homenageadas com o Milesime, um cabernet sauvignon que só foi elaborado em 1991, 1999, 2004 e 2005, este com lançamento programado para este ano. "Estamos trabalhando para ter mais um Milesime", conta o enólogo Antônio Czarnobay, sem. "Só depois de termos o vinho pronto e estabilizado é que saberemos se será possível. Czarnobay ainda não considera a safra de 2008 excepcional, mas acredita que, no mínimo, ela será "destacada". A cautela dos enólogos é justificável. A decisão de lançar rótulos comemorativos só é tomada depois da elaboração e de algum tempo de observação do vinho. E é comum que os primeiros vinhos especiais sejam encaminhados ao mercado pelo menos dois anos depois da safra. Nos três primeiros meses do ano, a colheita da uva movimenta a Serra Gaúcha, num constante vaivém de agricultores, trabalhadores temporários e funcionários de vinícolas entre os parreirais e as cantinas. Fornecedor da Miolo, o agricultor Lóris Rasia acompanha a colheita da variedade merlot com a convicção de que está diante de uma boa colheita. "No ano passado, chuvas de última hora reduziram o teor de açúcar. Este ano estou colhendo com 21 graus babo", destaca Rasia, referindo-se a um índice considerado ótimo. "A fruta está boa", confirma Nédio Lima, enquanto joga as uvas em um caminhão.

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