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Salão de Detroit deixa o luxo de fora

Desfalcado de tradicionais montadoras, evento mais importante da indústria mundial terá chineses na área nobre

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O Salão do Automóvel de Detroit (ou Naias, como é chamado nos Estados Unidos), um dos mais importantes do mundo automobilístico, será aberto ao público no dia 15 em meio à maior crise da indústria americana. O evento de 2008 já ocorreu em clima de insegurança, mas o deste ano será mais sombrio. Em um ano, os Estados Unidos perderam em vendas quase um mercado inteiro brasileiro, que em 2008 atingiu volume recorde de 2,8 milhões de veículos. Os negócios no maior mercado mundial de carros caíram de 16 milhões de unidades em 2007 para pouco mais de 13 milhões no ano passado. Duas das três maiores montadoras americanas - a General Motors e a Chrysler - só conseguiram resistir à possível falência na virada do ano porque receberam US$ 14 bilhões de ajuda governamental. A Ford, embora também passe por período difícil, tem um pouco mais de fôlego financeiro que as concorrentes. Em meio a esse furacão, intensificado após a crise dos subprimes, o Salão de Detroit, cidade sede das três montadoras, será diferente do que os visitantes estão acostumados a ver. "Vai ter muito produto voltado às tecnologias alternativas, principalmente em uso de combustível, e pouco produto de luxo, segmento que não está vendendo nada", diz o presidente da GM do Brasil, Jaime Ardila. "Será um salão mais austero, não só por causa dos custos, mas da nova tendência." Para ele, o evento será a oportunidade de as montadoras passarem confiança aos consumidores de que estão trabalhando para tornar seus veículos mais econômicos e menos poluentes. A GM, informa o executivo, vai apresentar cinco modelos híbridos (movidos a gasolina e a energia elétrica), além do Volt, carro elétrico mostrado há um ano, mas agora mais próximo da sua versão final, com lançamento previsto para 2010. A GM também vai expor uma nova versão crossover (mistura de carro com utilitário) do Cadillac, de porte menor que os veículos dessa faixa, a perua Cadillac e o Cruse, um sedã do tamanho do Vectra brasileiro. Também terá o compacto Aveo, do tamanho do Corsa, que será importado inicialmente da Coreia para o mercado americano e depois do México. Os organizadores informam que o número de lançamentos será similar ao do ano passado, com cerca de 60 novidades entre aproximadamente 700 veículos em exposição. O público previsto também foi mantido em 700 mil visitantes. São esperados ainda 7 mil profissionais da imprensa de 60 países, que terão acesso ao salão hoje, amanhã e na terça-feira. Ausentes, porém, estarão importantes executivos do setor, como o presidente mundial da Toyota, Katsuaki Watanabe, e o da Renault/Nissan, Carlos Ghosn. A Nissan desistiu inclusive de montar estande no Cobo Center, o pavilhão que abriga todas as marcas. A Toyota, por sua vez, vai mostrar a nova geração do híbrido Prius e seu primeiro compacto elétrico, ainda conceito. Além da Nissan, anunciaram que ficarão fora do salão a Rolls-Royce, Land Rover, Ferrari, Suzuki e Mitsubishi. Pela primeira vez, duas fabricantes chinesas, a BYD Auto e a Brilliance Jimbei, terão estandes no primeiro piso, área nobre do Cobo Center. Em anos anteriores, as chinesas ficaram no subsolo. Agora, vão ocupar o espaço que era da Mitsubishi. A Ford promete seis lançamentos, número igual ao de 2008. Entre eles também há modelos híbridos e a nova versão do Mustang. "O Salão do Automóvel de Detroit em 2009 será mais uma demonstração da estratégia da Ford em continuar investindo e oferecendo tecnologias e produtos desejados pelo consumidor, incluindo novos automóveis com estilo moderno e muito eficientes no consumo de combustível", afirma Marcos de Oliveira, presidente da Ford Brasil e Mercosul. AJUDA GM e Chrysler tem até março para apresentar seus planos da recuperação ao governo, para justificar a ajuda financeira. Os principais executivos das duas empresas, Rick Wagoner e Bob Nardelli, respectivamente, já avisaram que não falarão sobre o tema durante o salão, mas sabem que terão de dar algumas respostas sobre a situação das empresas. O setor automobilístico americano prevê nova queda de vendas este ano, para algo próximo a 13 milhões de veículos, calcula Ardila. "É uma queda sem precedentes na história dos EUA", afirma o presidente da GM brasileira. Dezembro foi um dos piores meses para a maioria das empresas. As vendas da GM, Ford, Honda e Toyota caíram mais de 30%; e as da Chrysler, na casa dos 50%. *A repórter viaja a convite da Anfavea

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